sábado, 8 de outubro de 2011

Semana 16 - Ser português não é fácil, não!

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Há dias em que não tenho paciência nenhuma para conversa de circunstância e em que só me apetece responder torto. Tenho-me aborrecido um bocado com as perguntas insistentes de alguns dos meus conhecidos: 'Então, mas não estavas na Alemanha? E vais voltar? Quando?' E meterem-se na vossa vida, não?

Eu gosto de falar sobre a minha experiência no estrangeiro (como os meus avós dizem, porque lhes parece a uma distância impensável), mas cada vez que falo nisso fico tristíssima porque muitas vezes me apetecia muito mais lá estar, mesmo sozinha, do que estar aqui em Portugal e voltar a viver esta vidinha muitas vezes chata. Eu estou feliz por estar de volta à vida que conheço bem e às pessoas que amo, mas abrir o jornal e aperceber-me de tanta coisa que se passa por cá e que contribui para a taxa de depressão ser a 2ª maior da Europa também me deprime. Estar sozinha durante vários meses tornou-me mais imune a muitas coisas, mas a diminuição de qualidade de vida é coisa para me mexer com os nervos.

Problemas e desigualdades sociais a aumentar, qualidade de vida a diminuir assim como os ordenados e os subsídios a quem precisa. Cortes na educação e na saúde que servem os propósitos somente económicos de quem andou a esbanjar o que tinha e o que não tinha e que agora se vê a braços com os memorandos da troika para prevenir que Portugal não chegue ao estado da Grécia. No meio de tudo isto quem paga é sempre o contribuinte, que é como quem diz, cada um de nós, que vivendo de acordo com as suas possibilidades, vai ter de ver a sua qualidade de vida diminuir à medida que os impostos aumentam e o salário vai sendo cada vez menor para fazer face às despesas do governo. Esta crise que estamos a atravessar torna cada vez mais real aquela frase ‘sobra mês para o ordenado’.

Eu sei que sou muito básica nesta análise, mas preocupa-me o estado da nação enquanto contribuinte e enquanto profissional. Sou professora a recibos verdes, a trabalhar em vários sítios ao mesmo tempo porque aquela oportunidade que estava mesmo ao virar da esquina desapareceu por falta de verba. Acho muito triste que por falta de dinheiro (e sendo a má gestão também um fator possível) os alunos deixem de ter aulas. Neste caso esta situação já não será nova, mas como me afetou diretamente a mim e aos meus planos, sinto-me bastante indignada com a facilidade com que se decidem as coisas tendo em conta critérios economicistas.

Bem, se pensarmos nas condições de trabalho dos professores que lecionam no nosso sistema de ensino e no ciclo que todos os anos se repete para milhares que voltam às listas de colocação e ficam desesperados à espera de uma vaga, nem é motivo para estranhar que o concurso de recrutamento para o estrangeiro tenha sido cancelado. Costuma dizer-se ‘longe da vista, longe do coração’, o que neste contexto só me leva a questionar-me se os alunos que vivem fora de Portugal, mas que são descendentes de portugueses, serão menos importantes nesta hierarquia do ensino. Achando eu que não deveria ser assim, porque se pensarmos também em motivos económicos, ainda há muito dinheiro a entrar em Portugal vindo das nossas comunidades portuguesas que estão a construir as suas vidas e as suas famílias lá fora, já que não encontraram condições em Portugal para se estabelecerem.

Tenho em crer que se esta visão economicista continua, qualquer dia deixamos de ter portugueses lá fora. Se as pessoas na maioria das vezes já se identificam mais com os países de acolhimento, não me parece assim tão absurdo sentirem-se cada vez menos portuguesas e cada vez mais alemãs/ francesas/ venezuelanas/ canadianas ou outra coisa qualquer. Nos meses que estive fora, não me pareceu que houvesse uma adoração cega por Portugal e até se percebe porquê. Infelizmente os filhos das segundas e terceiras gerações começam a não conhecer o país de onde são provenientes as famílias, então aprender português porquê?

Para quem dá aulas e se preocupa com estas coisas, dá que pensar.

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