I have always thought of Christmas as a good time; a kind, forgiving, generous, pleasant time; a time when men and women seem to open their hearts freely, and so I say, God bless Christmas! - Charles Dickens
Sentada à mesa da cozinha a beber um capucino e uma torrada dou por mim a pensar nisto do Natal e percebi que o que gosto mesmo é dos preparativos e da expetativa, porque no fim de contas entre dia 24 e 25 as 48 horas do Natal passam depressa demais. Mesmo assim, há 4 anos que os meus Natais são passados entre famílias, temos dividido bem a conta das horas e conseguimos estar com toda a gente na noite de Natal e no dia 25. Não é preciso muita ginástica para estarmos com aqueles de quem gostamos e que gostam de nós, já que a distância é irrelevante – são poucos quilómetros, mas mesmo que fossem muitos!
E é bom ver e saber que estão todos bem de saúde e que somos felizes juntos. Sei bem que as nossas famílias têm particularidades que por vezes são difíceis de compreender ou até de aceitar, mas tentamos lidar com isso da melhor forma possível: na minha família liga-se pouco ou nada a presentes, principalmente embrulhados (debaixo da árvore cá de casa este ano não houve um presentinho para contar a história! Bem, a minha irmã deu-me um colar lindo que não consegui deixar de abrir logo na altura. Ups!), mas na família do marido a coisa é levada muito mais a sério e há sempre presentes para toda a gente, mesmo que seja só um miminho. Eu acho piada ao gesto, mas faz-me um bocadinho de confusão porque desde que sou adulta não há o ritual da troca de prendas. A minha mãe dá-me o que eu preciso quando é preciso e não tem de ser no Natal e normalmente são objetos para a casa – este ano foi uma manta para o sofá. Nós fazemos prendas caseiras: doces, bolachas, azeite e sal aromatizados e mistura para panquecas e decoramos com o nosso melhor sorriso, uma fita bonita e já está. Um pouco de nós.
Nós damos estes miminhos porque já sabemos que vamos receber alguma coisa, mas no meu caso nunca tenho vontade de receber nada – já disse que gosto mais de dar do que de receber? – e só há um presente que me deixa verdadeiramente feliz. Livros! (Claro que não desprezo os presentes que me dão, porque alguns são bastante úteis, mas são isso mesmo, úteis, não felizes!) Sei que todos os anos em que vivi em casa dos meus pais houve sempre este presente em comum e eu e a minha irmã adorávamos.
Lembro-me perfeitamente de receber alguns livros da Anita – agora estão guardados no sótão à espera que apareça alguma menina na família que demonstre tanto interesse por eles como nós-, livros do Triângulo Jota, Uma Aventura, os Cinco e outros que tais. Mais crescidas, recebíamos dinheiro e quando já tínhamos juntado uma quantia jeitosa íamos à FNAC e nunca vínhamos de lá com menos de 100€ em livros. ‘Romances’, como diz a minha querida avó. E que saudades tenho desses tempos.
Este ano não recebi livro nenhum…mas parece-me que em janeiro vou aumentar o meu espólio já que tenho uns quantos na minha lista de desejos! São caros, que são, mas eu acho que os livros são sempre um investimento e nunca é dinheiro perdido, por isso é que iniciativas como a Déjà Lu são de louvar.
Os jornalistas conceituados da nossa praça não servem só para serem opinion makers nem para escreverem livros. Devem também – tarefa até mais importante, segundo o meu ponto de vista – divulgar e promover as boas iniciativas que ainda vão aparecendo com causas nobres, como se pode ver no caso do jornalista Pedro Rolo Duarte que no seu blog discorre sobre o estado de Portugal aos seus olhos, mas também faz referência a boas práticas que se vão fazendo por aí. Umas delas é o blog de leilões de livros que já referi, que aceita ofertas de particulares ou de autores e que depois vende essas obras por um preço simbólico. Eu achei o contexto e o objetivo tão interessantes (o valor integral das obras é entregue à APPT21 – a transferência é feita diretamente para a conta da associação) que não resisti e comprei dois livros do Pedro Rolo Duarte, autografados pelo próprio e tudo, pela módica quantia de 12! A partir daqui faço muitas questões de continuar a contribuir para esta causa. E se vou poder continuar a reforçar o meu stock de livros, tanto melhor!
Vou continuar a fazer isso ao longo do ano, porque há sempre livros novos que quero ler, ou antigos que nunca li, mas principalmente porque ser solidário não pode ser só no Natal. Sei que as pessoas têm mais tendência para a solidariedade nesta época, porque se sentem mais generosas, mais felizes e com mais esperança como já dizia o senhor Charles Dickens, mas isso não é desculpa para não o serem também ao longo do ano. A nossa ajuda faz sempre falta, seja Natal, Carnaval, Páscoa, verão ou inverno e não é só para as associações. Muitas vezes os nossos amigos ou a nossa família precisam de nós. De nós, do nosso tempo, da nossa disponibilidade e não de presentes. Ou como cantam os Deolinda:
Diz-me lá porque quetu te lembras de mim
quando chega o natal
porque é que só nesta
quadra é que tu reparas
se eu estou bem ou mal
diz-me lá onde é que paras
o resto do ano
eu preciso mais de ti
do que te vais lembrando
Diz-me lá porque é que tu
não me envias postais
durante o ano inteiro
Diz-me lá porque razão
é que não me dás prendas
sem ter um pretexto
diz-me lá o que te move
uma vez por ano
eu preciso mais de ti do
que te vais lembrando
diz-me lá que gratidão
é que esperas de mim
apenas por um dia
eu que espero um ano
inteiro e que tanto anseio
a tua companhia
hoje reformulo os votos
e o meu desejo
eu preciso mais de ti
do que te vais lembrando
Um feliz natal
não hoje mas um ano inteiro
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