A par do crescimento do desemprego, da agudização da crise em que o país mergulha, aumenta, a cada dia, o número de jovens que abandona o ensino superior por falta de dinheiro.
Já há quem nem chegue a candidatar-se.
Parte dos que arriscam, está a deixar o ano lectivo a meio.
Já há quem nem chegue a candidatar-se.
Parte dos que arriscam, está a deixar o ano lectivo a meio.
A reportagem é sobre o abandono escolar no Ensino Superior, coisa em que eu nunca tinha pensado a sério até ter ouvido a apresentação da reportagem como som de fundo na tv. Bem, eu sei que há imensas pessoas que desistem da faculdade por imensos motivos, mas realmente nunca tinha associado isso à crise. No entanto, como primeira análise, parece-me bastante redutor que na reportagem só tenham aparecido os casos dos alunos cujos pais deixaram de ter como pagar as despesas de um curso universitário. Há tantos outras situações que podiam ter sido referidas, mas como sempre, vamos falar da crise e como é um espinho na vida dos cidadãos.
Quem já passou pela vida universitária (e nem sequer estou a considerar estar-se deslocado noutra cidade!) tem a perfeita noção de que se gasta um balúrdio de dinheiro em fotocópias e livros e refeições e transporte, já para não falar das propinas. Sei que os valores chegam a ser assustadores (no ano em que entrei paguei 375€ anuais de propinas e 5 anos depois paguei 1000€!!!), e há bastantes pessoas que são trabalhadores-estudantes para conseguirem ter um pé de meia para os gastos, mas não houve nenhum caso assim retratado na reportagem. No meu caso, só trabalhei no último ano da faculdade e não foi propriamente para pagar as despesas universitárias, mas mesmo assim sempre ajudou a baixar o encargo dos meus pais porque passei a ter dinheiro para as minhas coisas. O meu marido começou a trabalhar em simultâneo com o 2º ano da faculdade e não está nada arrependido e também não foi porque os pais lhe tivessem pedido.
Admito que a minha primeira reação à reportagem foi de pena, ao ver nos olhares de alguns dos jovens entrevistados uma tristeza infinita por não ter possibilidade imediata de concretizarem o sonho de tirarem um curso superior. É verdade que ter um curso é importante, mas não me parece que deva ser o concretizar de um sonho. Deve ser, sim, um meio para atingirmos os nossos sonhos e nos realizarmos como profissionais talentosos e dedicados.
Admito que a minha primeira reação à reportagem foi de pena, ao ver nos olhares de alguns dos jovens entrevistados uma tristeza infinita por não ter possibilidade imediata de concretizarem o sonho de tirarem um curso superior. É verdade que ter um curso é importante, mas não me parece que deva ser o concretizar de um sonho. Deve ser, sim, um meio para atingirmos os nossos sonhos e nos realizarmos como profissionais talentosos e dedicados.
Quando a reportagem terminou senti que estes jovens que estão na universidade precisam mais de rumo do que de dinheiro. Se os pais não os podem ajudar, têm de ser eles a fazer pela vida, coisa que não me parece que muitos estejam habituados! Uma das entrevistadas dizia que lhe custa muito pensar em emigrar, mas a mim parece-me que, nas circunstâncias atuais, isso nem deveria ser um obstáculo. Em Portugal pensa-se sempre muito que os problemas que nos acontecem são catastróficos e vamos andando à volta do rabo, como os gatos, até estarmos ainda mais perdidos e desencorajados, em vez de se pensar que afinal as dificuldades atuais até podem ser um ponto de viragem. Não defendo que devamos todos abandonar o país, mas devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance para melhorarmos a nossa própria vida!
Eu não sou a pessoa mais indicada para louvar as vantagens da universidade, porque para mim foi exatamente um meio para atingir a profissão que sempre quis ter, não foi uma época de festas e de diversão e de fazer amigos. Nunca fui de sair à noite, nem de grandes borgas, preferia estar na biblioteca do que no bar, tentava ter os trabalhos prontos a horas e esforçava-me por tirar notas razoáveis, tentava não me baldar. Portanto, como foram 6 anos de trabalho intenso não posso dizer que tenha sido a melhor época da minha vida.
Foi bom? Sim. Cresci como pessoa? Sim. Melhorou a minha vida? Claro que sim. Deu-me a oportunidade de viver no estrangeiro e de moldar um dos meus sonhos, e só por isso já valeu a pena. Sei que seria uma pessoa diferente se não tivesse estudado ao nível superior, mas nunca é tarde para quem não tem possibilidade agora. Há cada vez mais possibilidades de se ingressar na faculdade sem ser no percurso ‘normal’ ao sair da escola. Não me parece o fim do mundo, mas não deixo de ficar pensativa sobre isto e sinto que é muito triste os pais não poderem ajudar os seus filhos…
No dia 23 foi Dia do Livro e ontem foi Dia da Liberdade, portanto só me ocorre dizer: 'Bolas para a crise que impede os nossos jovens de terem a liberdade de escolher se querem ou não traçar o seu futuro através de um curso superior!’
Gostei da tua reflexão, embora não esteja 100% de acordo. Antes de mais, deixa-me só dizer que te descobri há pouco tempo através do blog da Alice, O Sítio das Coisas. Pelo que já li de ti és professora e estás no activo. Parabéns! Eu não tenho a mesma sorte. E este pode ser o ponto de partida para o que gostaria de comentar ao teu texto. Vi a reportagem e senti tristeza com os casos apresentados. Também entrei para a faculdade a pagar 300€ e qualquer coisa de propinas anuais e acabei a pagar quase 1000€. Tirei o curso para exercer a profissão que desde pequena digo que quero ser. E nunca consegui colocação. Nunca consegui uma vaga em colégios ou escolas profissionais (e enviei para mais de 100 cv's em 4 distritos diferentes), não fui admitida para o IEFP - Novas Oportunidades. E no entanto fiz-me à vida e procurei outros trabalhos. Já fiz muita coisa, já aprendi muitas funções e programas informáticos. Mas nunca passei de recibos verdes e contratos temporários. Encontro-me desempregada e pensar na possibilidade de emigrar é complicado porque tenho uma vida, uma casa e um marido cá. Ver os jovens de hoje a desistirem do curso por não terem dinheiro entristece-me. Porque no meu (nosso) tempo ainda se arranjavam part-times em lojas e centros comerciais para conciliar com os estudos, e agora nem isso. E ao mesmo tempo penso que eles não estão a desistir de grande coisa, porque afinal, e ainda que seja sempre uma mais valia ter formação, a verdade é que o mercado português não tem capacidade para absorver os licenciados deste país. No fundo os que desistem, desistem no imediato por falta de condições, mas que futuro teriam eles se prosseguissem com os estudos, passando fome se necessário? Dá que pensar...
ResponderEliminarDesculpa o longo comentário, mas o tema ajuda a que uma pessoa se estenda um pouco nas palavras.
A liberdade só pode existir se as pessoas tiverem os meios para poderem optar. Enquanto houver pobreza que não permita a dignidade humana, para quê falar de liberdade?
ResponderEliminarEstou cansada destes intelectuais,politicos e familiares que falam tanto, mas têm empregos garantidos, vão de férias e outros luxos imprescindiveis à sobrevivência. Não é demagogia, mas isto não pode ser assim, não deve ser assim.
Um beijo.