As viagens levam-nos onde o coração deixa. O sítio a que chamamos casa pode ser ao virar da esquina ou do outro lado do mundo. De pouco importa quando aquilo que nos define lá está.
Gosto de sair de casa. Stop. Gosto de ficar em hotéis. Stop. Gosto de ir. Stop. Gosto de viajar. Stop. Mas gosto muito de chegar. Stop. A qualquer lado. Stop.
Se isto fosse um telegrama seria o que eu diria. Resumindo, gosto acima de tudo de ir, daquela sensação boa que é ter um objetivo, um destino marcado e saber logo na casa da partida que vai ser divertido.
Viajar é em primeiro lugar os arrepios no estômago quando a viagem está a ser planeada. Aqueles tempos em que ainda reina a indecisão. Vou ou não vou? Vamos ou não vamos? E quando a decisão é sim, os arrepios passam a entusiasmo. E é o entusiasmo que me move quando começo a pensar naquelas coisas importantes para além do destino que já está decidido. Onde é que ficamos? E quantos dias? O que vou visitar? Será que o tempo vai estar bom?
Com todos os pormenores relativamente bem pensados e já ponderados e discutidos, o tempo começa a ser cada vez mais curto, até que chega o dia. Mala no carro ou às costas, conforme o tipo de viagem e agora vamos lá.
Primeiro a viagem – as últimas têm sido longas e cansativas - e só depois a chegada. Só o alívio da chegada ao hotel – ou ao hostel, no caso desta – é comparável em grandeza ao desejo de ir. Na última ida, 8 horas de autocarro numa viagem chatinha e demorada, mas que podia ter sido pior. Não enjoei, o que, tendo em conta o histórico, já não foi nada mau.
Na chegada ao destino, mesmo que esteja de rastos, fico felicíssima, porque já sei que vou enriquecer um bocadinho mais a minha bagagem cultural, nem que esta viagem seja já uma 2ª visita. Há sempre sítios novos a visitar ou podemos visitar os mesmos, mas iremos com certeza experienciar novas sensações e sentimentos. E é tão bom matar saudades.
E quando acordo pela primeira vez numa cama diferente da do costume, num sítio novo já tenho pensado: ’Caramba, tenho tanta sorte!’ E sei que tenho sorte por poder estar a fazer uma das minhas atividades preferidas, que é sair da minha concha e misturar-me com as pessoas. Ser mais uma a poder dizer: Estive aqui. Fiz parte da vida deste sítio. Saboreei o que é viver aqui. E agora quero mais…
Não um querer egocêntrico, mas aquela vontade de coração aberto, de querer crescer, viver sempre mais, conhecer mais, pertencer a algum sítio, mesmo que esse sítio esteja em vários lugares. E mesmo que o coração comece a ficar muito repartido, em vez de abrir fendas, vai ficando cada vez maior.
E pertencer a algum sítio é pôr-se os pés fora da cama e desejar que o dia corra bem, mesmo que chova, mesmo que esteja um calor abrasador, mesmo que se ande no metro sem pagar bilhete, mesmo que por pouco não se tenha de dormir fora do quarto, mesmo que doam os pés. As coisas menos boas são sempre as que dão as melhores histórias.
Ser viajante é isso. É poder ir onde se quer, ver e conhecer o que é importante, ou então onde os nossos pés nos levam, tirar as fotos da praxe, ou de outros ângulos diferentes ou absurdos. É perder-se nas distâncias e andar quilómetros a pé só porque não apetece apanhar o próximo transporte. É apanhar 2 molhas no mesmo dia. Estar lá e viver a vida noutro sítio. Deixar a rotina em casa e voltar a não ter horas com prazos de validade.
É simples. É querer e ir. Stop