quinta-feira, 28 de abril de 2011

Semana 5 - Já não é nada como antigamente

shut computer, meet someone
Uma das actividades a que me tenho dedicado mais nos últimos tempos é a surfar na internet. Passo horas online e muitas vezes sinto que em vez de perder horas de vida, ganho nas pessoas que conheço, nas vidas que se vão cruzando com a minha. Isso vale o que vale, porque não se chega a conhecer realmente as pessoas, se todo o contacto é via comentários, posts, emails e estados do facebook. Uma pequena parte de nós que passa para o outro lado do monitor.
Com este tipo de interacção sinto que falamos demais de nós e de menos dos outros. Trocamos ideias sobre tudo e mais alguma coisa com pessoas em quem nunca pusemos a vista em cima e que muito provavelmente nunca se cruzariam no meridiano da nossa vida real. Lemos opiniões díspares sobre milhares de assuntos e vamos deixando as nossas opiniões e comentários também espalhados aqui e ali, o que não é lá muito propício à criação e manutenção de amizades, ainda que virtuais. Há aquelas pessoas que se vão tornando mais constantes na nossa vida virtual, mas ainda assim, não há nada como conhecer as pessoas frente a frente, olhos nos olhos. E não é claramente sentados em frente de um monitor que a coisa vai acontecer.
Isto é o que torna a realidade virtual isso mesmo, virtual. E o verbo sofalizar possível. As novas tecnologias vieram permitir situações impossíveis há alguns anos. O telemóvel mantém-nos sempre em contacto, ainda que muitas vezes seja irritante e inconveniente, a internet facilita-nos as pesquisas sobre qualquer assunto e permite-nos encontrar pessoas há muito desaparecidas das nossas vidas – tenho reservas quanto a isto, por isso tenho 20 pedidos de amizade pendentes –, e encontrar outras tantas fora do nosso círculo de amigos, do nosso país ou até do nosso continente. Acredito muito mais nas potencialidades da internet quanto aos contactos com pessoas com quem nos identificamos, mas que não moram perto de nós, do que nos reatamentos de relações que tiveram o seu lugar no passado e era lá que deviam continuar. Nisto o facebook veio trazer problemas onde eles antes não existiam.
Embora o facebook tenha também uma função mais positiva, que é a de almofada de embate contra a rejeição. Pois, porque se antes as pessoas se conheciam das maneiras ditas ‘normais’: os grupos de amigos ou de colegas da escola, as actividades lúdicas ou desportivas em comum, de há uns anos a esta parte conhecem-se pessoas na internet, primeiro nos chats, depois no hi5 (me-do) e agora no facebook. E sendo mais fácil meter conversa, ‘ai que és tão gira e tal, queres ser minha amiga no facebook, para podermos trocar umas ideias e uns gifts do farmville’, o risco da rejeição não é tão evidente. Se a pessoa não gosta, ignora em vez de ter de fazer aqueles sorrisos amarelos como já todos fizemos: ‘Ahhh, pois sim, tu és muito fofo e tal, mas só me fazes lembrar o Manel Jaquim e credo, que feio que o gajo era. E veio a descobrir-se ainda se tornou modelo’ .
É por estas e por outras que mais dia menos dia, mais coisa menos coisa, gosto de combinar coisas in person com aquelas pessoas que realmente me dizem algo e com quem me identifico. Para tirar as teimas e ver se são mesmo aquilo que escrevem, ou se me identifiquei com um avatar. Também podia ser, mas essa história já é mais que conhecida e prefiro passar ao lado.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Semana 4 - E o que é que fazemos com o tempo?*


Time is the coin of your life. It is the only coin you have, and only you can determine how it will be spent. Be careful lest you let other people spend it for you.
Carl Sandburg (1878 - 1967)
Bem, na equação de 24 horas/3 = 8 horas de sono + 8 horas de trabalho + 8 horas de (suposto) lazer parece haver muito tempo para aproveitar da melhor maneira. Normalmente só parece, porque ao fim e ao cabo nunca ninguém está satisfeito a 100% com o rumo que dá ao seu tempo livre.

Por mim falo. Aqui, que tenho muito tempo livre, não tenho amigos nem família com quem sair e passear. Já tenho conhecido muita gente com quem tem dado para conviver, mas por mais queridos que todos sejam, as minhas pessoas são as minhas pessoas. E por causa disso mesmo acabo por passar muito tempo (às vezes demasiado) à frente do computador - que foi sempre uma das minhas actividades indoors preferidas - a escrever e ler emails, no facebook, a passear pela blogosfera e a dedicar-me aos meus blogues, não só porque adoro escrever aqui, mas também porque é mais uma maneira de partilhar a minha vida com os meus amigos e família (apesar de haver poucas pessoas na vida real que conhecem esta minha vida virtual).

Gosto imenso desta nova rotina que já criei aqui e que agora também inclui o ginásio. Ao início é sempre difícil habituarmo-nos a novas situações, mas já ultrapassei isso. E acho que tenho conseguido aproveitar o tempo da melhor maneira e sinto-me feliz com isso, mas compreendo perfeitamente que também tem a ver com o facto de não trabalhar com horário completo.

A minha querida Anna queixa-se que o tempo não dá para tudo e eu percebo-a perfeitamente. Pensamos sempre que são só 8 horas de trabalho, mas se virmos bem, acabam por ser muito mais, porque desde a hora a que acordamos de manhã até à hora a que chegamos finalmente a casa normalmente passam entre 10 a 12 horas, contando com o tempo até sairmos de casa, as deslocações e a hora de almoço. Obviamente que o tempo depois de chegarmos a casa não é assim tanto até irmos dormir. Ou perdemos horas de sono para fazermos o que gostamos, ou então não o fazemos. Parece muito simples, mas eu, que já estive dos dois lados, achei sempre muito difícil de equilibrar isso.

Para fazermos o que gostamos e perdermos horas de sono, ao fim de uns dias a dormir pouco, o corpo ressente-se. Eu que cheguei a dormir só 4 horas por noite para estar com amigos e na festarola, acordava irritadíssima e passava uns dias muito maus para quem tinha de lidar comigo. Houve outras alturas muito chatas, em que não era mesmo possível sair, e eu tinha de ficar em casa, e obviamente ao fim de uns tempos começava a ressacar as saídas e andar triste e depré por me sentir meio ‘orfã’ de amigos.

Por isso é que digo que nunca estamos contentes. O ideal seria dormirmos o tal sono de beleza (nas horas ideais para cada um) para acordarmos bem-dispostos, e depois trabalhar naquilo que nos dá prazer num sítio porreiro com colegas pelo menos simpáticos e se possível perto de casa para demorarmos pouco tempo nas viagens. E ao chegarmos a casa termos planos para fazer alguma daquelas coisas que gostamos muito (sair e tomar um café com amigos ou cinema, ou ler, ou qualquer outra coisa) que não se prolongasse pela noite dentro, para conseguirmos repetir tudo no dia seguinte.

Isto era o que eu gostava que fosse possível para mim. Durmo bem, o meu trabalho é perto e porreiro. Falta só tudo o resto

* pergunta retórica da melhor amiga

domingo, 10 de abril de 2011

Semana 3 - Às vezes pergunto-me porque é me tornei professora...

appleTeacher
Quando decidi que queria ser professora devia ter por volta dos meus 10 anos. Tinha passado para o 2º ciclo, o que significou uma mudança enorme na minha maneira de ver o mundo até aí resumido a uma escola com uma única professora  e menos de 20 alunos. A nova escola era enorme e tinha tanta gente que eu me senti pequenina, pequenina.
Acordava cheia de vontade de ir para a escola porque sempre gostei muito de aprender e fazer os trabalhos de casa e as tarefas que os professores pediam nunca foram uma chatice nem um obstáculo. Era com gosto que estudava para os testes (por incrível que pareça), ao contrário do que aconteceu depois na faculdade. Ficava delirante quando tinha um Muito Bom ou um 5, se bem que havia aquelas disciplinas em que ficava muito contente com um 3, como era o caso de Educação Física e EVT (Educação Visual e Tecnológica).
O que sempre importou lá em casa foi o esforço e a dedicação a todas as disciplinas, mas principalmente as disciplinas de estudo. Se bem que os meus pais não tenham achado muita piada ao facto de eu ter tido um 2 no 2º e no 3º períodos no 8º ano a EVT. Com o tempo e com outras conquistas essa mancha no meu currículo académico foi deixando de ter importância, apesar de ainda hoje me sentir um bocadinho frustrada por causa disso, mas o que é que eu hei-de fazer? Eu e o desenho e os trabalhos manuais e afins nunca nos demos muito bem. E isso nota-se perfeitamente nos meus hobbies. Enquanto que há por aí muita moça prendada para o crochet, o ponto-cruz e as costuras em geral e outras tantas que gostam de pintar e desenhar para descontrair, eu continuo a gostar mais de ler.
Quanto às leituras, durante os anos da faculdade aconteceu-me uma coisa muito estranha, que foi ter perdido e muito a capacidade de concentração. Ainda não sei se foi das obras obrigatórias ou se foi da tonelada de fotocópias que tive de ler sobre variadíssimos assuntos. O que eu sei é que quando é para me dedicar a algum texto mais teórico sobre algum assunto relacionado com as aulas ou com a prática lectiva adio até não poder mais e quando finalmente tem de ser, é lido na diagonal para não ficar definitivamente desconcentrada e com a sensação de que estou a perder horas de vida. O mesmo se tem passado com a correcção dos testes, com a diferença de que aqui a atenção tem de estar sempre a 100%. Mesmo por isso é um sacrifício ainda maior.
E eu que enquanto aluna pensava que fazer e corrigir os testes era a parte mais gira? Redondamente enganada foi como me senti quando comecei a perceber todo o envolvimento necessário para a construção e correcção de um teste. Mas até me sentir assim, que se não me engano foi no último ano da faculdade, ainda tive de fazer muitos testes e muitas avaliações, e muitos comentários e muitos trabalhos de casa, que se tornaram gradualmente mais difíceis, mas que foram sendo sempre ultrapassados. Muitas vezes sentia-me frustrada por não ter conseguido a nota que queria, mas no secundário houve melhorias significativas, principalmente nas disciplinas que eu gostava mais.
As disciplinas em que sempre fui melhor foram sempre as línguas. O Inglês principalmente. E aqui voltamos aos 10 anos. Foi a idade com que comecei a ter Inglês e aí comecei a achar que o futuro iria passar por trabalhar com esta nova língua, já que gostava tanto e tinha sempre óptimas notas. O amor pela disciplina foi crescendo, também fruto dos óptimos professores que tive sempre e que me incutiam o gosto e a vontade de saber sempre mais.
Quando cheguei ao 10º ano, à área de Humanidades, já sabia há 5 anos o que queria fazer da minha vida. Queria ser professora! Assim, com esta imensa convicção que admirava toda a gente. Tinha a certeza que era uma profissão que ia adorar ter, porque sempre gostei de aprender e os meus colegas achavam que eu tinha jeito e paciência para ensinar e os professores que tive também me motivaram com a maneira com que davam as aulas. Pois bem, já que gostava tanto de Inglês isso ficou logo decidido, e entretanto comecei a estudar Alemão (porque não simpatizava assim tanto com o Francês) e ao contrário do anúncio da Coca-Cola, entranhou-se antes de ser estranho. Adorei a língua e todas as diferenças em relação ao português. Acho que também ajudou na altura também estudar Latim, porque as declinações eram assim um conceito um bocadinho estranho para nós portugueses.
E quando terminei o Secundário, os exames nacionais reiteraram qual seria o destino, já que as melhores notas foram mesmo às minhas disciplinas preferidas. E 9 anos depois do 12º ano, sinto-me cada vez melhor com a decisão que tomei há 16 anos, apesar das dúvidas que me assaltam com demasiada frequência, das inúmeras burocracias inerentes, das funções e do trabalho nem sempre reconhecidos, e presentemente, da distância a que me obriga este novo lugar.
Houve muitas coisas boas no caminho percorrido até aqui e mais haverá nos próximos anos. Assim o espero, já que é uma bênção fazer-se o que se gosta, apesar de todos os mas… 
 

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Semana 2 - Pelo gosto de cozinhar, ou será de comer?

Eu não sou daquelas pessoas que adora cozinhar e que é feliz na cozinha. Sinto-me mais do género tem-dias, mas acho que até tenho algum jeito, se me sentir inspirada porque não outros dias não funciono lá muito bem. Quanto aos cozinhados pelo menos nunca ninguém reclamou (falta de sal não é defeito, é feitio) e os nossos jantares lá em casa têm feito sucesso. Agora ter de cozinhar só para um, não é mesmo para mim.
Chateia-me ter de pensar o que me apetece comer e depois ter de preparar as coisas só para mim. Em Portugal comia muitas vezes pão com qualquer coisa, ou iogurte com cereais só para não ter de ir para a cozinha. Aqui vou pelo mesmo caminho, mas ao almoço pelo menos faço um esforço, porque uma pessoa não se alimenta como deve ser só à base de iogurtes, pão e cereais. Hoje por exemplo, fui às compras de manhã e trouxe uma embalagem de carne de vaca para goulash (que é como chamam aqui à carne de vaca para guisar) e fiz carne guisada com fusilli. Obviamente que fiquei muito contente comigo mesma, primeiro porque estava óptimo e porque agora tenho mais 2 refeições prontas. E mesmo que me apeteça outra coisa, já está a jeito para a próxima refeição.
Aqui em casa só me chateia não haver micro-ondas e ter de aquecer a comida no forno ou no tacho. Deve ser por isso que as minhas roommates não cozinham. Quer dizer, eu nunca vi nada ao lume nem senti o cheirinho bom da comida a cozinhar. Parece-me que às vezes lá fazem umas massas e outras coisas assim do género, mas agora fazer uma refeição como deve ser, ainda não me apercebi. Sustentam-se a chá, café e chocolate, deve ser isso.
Aqui na Alemanha, as pessoas realmente não parecem cultivar muito o hábito de cozinhar. Apesar de haver imensas variedades de vegetais e de haver mercados semanais em vários locais da cidade. O problema parece-me tem mais a ver com a oferta.
Há imensos sítios onde se pode comer fora e não são só restaurantes onde nos podemos sentar e almoçar. Aqui podemos falar principalmente de italianos e gregos. Pelo menos aqui é o que tenho visto mais. Há também muitos imbiss, que são sítios de comida rápida onde se pode comer de pé, ou então trazer take-away. Estes sítios vendem todo o tipo de comida: turca, chinesa, italiana, hambúrgueres, cachorros e batatas fritas, filetes de peixe e camarões panados (também há sandes e saladas neste sítio).
Já não para não falar dos cafés e bistrots e padarias que estão por todo o lado e vendem bolos e pão (algumas das imensas variedades de pão alemão) e também servem bebidas, os tais cappuccinos e latte machiatos e chocolates quentes e por aí fora. Estes sítios são sempre muito movimentados a qualquer hora e principalmente as padarias abrem muito cedo. Em frente à minha casa há uma padaria que abre às 6 da manhã para as pessoas poderem ter sempre pão fresco de manhã. 
Incluo-me definitivamente neste grupo e enquanto em Portugal se queria pãozinho fresco de manhã tinha de me contentar com o pão feito na máquina de fazer pão, que até é uma bela invenção mas que não satisfaz assim tanto, aqui tenho sempre a opção de ir à padaria à hora que acordar comprar umas bolinhas de cereais. Pão com cereais e uma caneca de leite com café, haverá melhor despertar?