quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Semana 31 - Ousar ser devia ser obrigatório!

don't be afraid
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Não ache que seja melhor ou pior do que ninguém (apesar de numa prova psicotécnica à pergunta: 'já se sentiu superior a alguém?' ter respondido que sim sem sequer ter pensado muito) mas para dizer a verdade a falsa modéstia irrita-me um bocado. Portanto, aqui vai uma limpeza da alma!
Tenho muitas qualidades e sei disso. Valorizo-me enquanto pessoa e sei qual é o meu valor (se bem que nem sempre ache que seja suficientemente capaz para muitas coisas), mas caramba, gosto de ir à luta. Ahhhh se gosto!
Adoro sentir a adrenalina da 'luta' a envolver o meu corpo e sentir que serei capaz. Depois de saber que fui efetivamente capaz de dar à volta às coisas e por conseguir ver sempre o lado positivo ainda me fico a sentir melhor, principalmente se isso depender só de mim.
Sei que fraquejei e que fracassei neste meu positivismo no ano passado quando toda a minha vida me parecia difícil de aguentar. Não é fácil lidar com a morte de alguém num acidente sendo nós a pessoa que esteve no sítio errado na hora completamente errada. Nunca me conformei com isso, mas infelizmente não é nada que eu consiga resolver...
Os problemas não desapareceram, acho que até pelo contrário, mas se já fui capaz de viver por 3 vezes no estrangeiro e começar a minha vida do zero, hei de ser capaz de muita outras coisas! Pelo menos a minha mãe tem uma confiança absoluta nisso e reforça-me a ideia de todas as vezes que falamos ao telefone, que nos últimos tem sido mais do que eu esperava!
Sei bem que em Erasmus o tempo é contado e que em 2011 a experiência foi de 4 meses e meio, mas não sei se assim não custará até mais, saber que ao fim de uns tempos tudo o que investimos vai ter um fim. Desta vez parti de coração aberto e sinto-me para ficar. E com isso sinto-me bastante livre mentalmente.

Há dias horríveis, claro que há, e já falei disso por aqui, mas parece-me que há outros dias em que por mais normaizinhas que sejam as coisas me sinto a crescer. Conhecem aquelas dores de ossos que os médicos dizem que são de crescimento? Pois, há dias que sinto que a alma me dói mas é exatamente por isso. Que todas estas experiências me vão levar longe.
Nunca me senti muito de planos, porque acho que fui percebendo que a vida tem umas estranhas maneiras de nos mostrar que não somos nós que mandamos. Vou-me adaptando, mas nunca parto (com tudo o que isso tem de mau), porque quero muito que a minha essência não se perca, só se enriqueça com os muitos momentos que vou colecionando. E que boa coleção que vou tendo já!



domingo, 6 de outubro de 2013

Semana 30 - Dia do Professor

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Hoje comentei com os meus alunos que era o Dia do Professor e eles reviraram os olhos...achei sintomático daquilo que as pessoas em geral e os alunos em particular acham de nós - um mal necessário... Não fiquei lá muito contente, mas a aula lá continuou no ritmo que era suposto ter e falámos sobre a implantação da República. De 18 miúdos dentro da sala só dois é que puseram o braço no ar quando perguntei se sabiam que dia era hoje!Dá-me que pensar saber que os miúdos são portugueses mas não vivem em Portugal e por isso mesmo não sabem muitas informações importantes sobre o seu país [eu tenho uma opinião sobre isto, mas há de ficar para outro post, porque se prende com outras circunstâncias...], mas sinto que é para isso mesmo que aqui estou.

Não sei em que circunstâncias decidi tornar-me professora, mas sei, com toda a certeza, que nunca quis ser outra coisa, mas nem todos os dias acordo com a certeza absoluta de que sei o que estou a fazer da minha vida! Faço o que gosto, claro que sim e quando os alunos ultrapassam dificuldades e dão aquele salto qualitativo que é perceptível por toda a gente, principalmente pelos pais, fico felicíssima e reitero a decisão, mas no início das aulas tudo me parece aterradoramente difícil e  só ter de pensar como é que vou dar a volta às turmas quase me tira o sono…
Realmente tenho dormido mal nos últimos dias, mas não deve ser disso! Em termos gerais, ter de vir dar aulas para o estrangeiro e para isso ter deixado toda a família e todos os amigos em Portugal não é nada fácil. Foco-me no mais importante no presente -  os alunos - e preocupo-me com tudo o resto fora do tempo das aulas. Nem sempre é fácil separar as águas, sabendo eu que a minha disposição influencia o trabalho da sala e o contrário também é verídico!
Sendo então os alunos a minha prioridade é normal que me preocupe com todos em geral e com os alunos do Secundário em particular. Estes têm aulas todos os juntos (os 3 anos e 2 níveis de Português diferentes, sendo que o 12º vai fazer exame no fim do ano...) e eu queria separar a turma. Não foi fácil convencer os miúdos a mudarem o horário, mas acho que até correu melhor do que eu pensei. Lá reclamaram que às 6as ao fim do dia estão cansados e não lhe apetece, mas consegui organizar-me com eles e passam uns a ter aula às 6as das 6.30 às 8.30 (nem quero pensar quando chegar o inverno e a neve…) e outros aos sábados às 8.30 de la matin!
Só é pena é que para estas mudanças vou abdicar de um dos meus dias de folga e vou acrescentar mais duas horas (não pagas) ao horário. Os miúdos não sabem nada disto e tenho cá a sensação que 2 horas de aulas a mais por semana não vão ser nada fáceis, mas assim até me sinto um bocado mais em consonância com as 40 horas de trabalho dos funcionários públicos em Portugal. Pois é que lá por estar aqui, também sou funcionária público e o meu salário também sofreu cortes e não foram nada pequenos!!

Voltando ao alunos, eu só espero que compense a alteração e que realmente eles aproveitem melhor as aulas, já que vai exigir esforço da minha parte. Eu não me importo, até porque quem corre por gosto não cansa, mas gostava era depois de colher os frutos disso! Que os conhecimentos dos alunos fossem desenvolvidos e explorados e que no fim do ano não me digam o que me disseram na primeira aula: ‘stôra, no ano passado não aprendemos nada!’

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

semana 29 - E vivam as reviravoltas!

E a história repete-se, mas agora com confirmação oficial :) Eu vou voltar a trabalhar no estrangeiro!
Já é tempo de contar as boas novas que por aqui vão, porque me sinto um bocadinho angustiada e ansiosa com tudo isto e assim ponho por escrito e pode ser que a coisa se acalme.
Pois que em março de 2011 concorri a um posto de professora de Português e fui colocada na Alemanha. Este ano, sem esperar, o concurso para 2013-2014 abriu com algumas vagas para os professores que prestaram provas no ano passado. Quando soube disto e vi o meu nome na lista nem quis acreditar. Fiquei boquiaberta e nem sabia se havia de rir ou de chorar e com uma boa proposta de trabalho numa escola a começar em setembro ainda hesitei por momentos (uns poucos segundos...). Chamei o marido e a minha pergunta foi:  too busy
- 'E agora, o que é que eu faço?'  - 'Então, mas estás à espera de quê para enviar esse email?'

Nem tive grande hipótese de pensar e de ponderar nos prós e nos contras. Já se sabe que isso fica para depois (que chegou agora por estes dias de espera!). Eu que sou pelo ir, pelo fazer, pela ação!


Mail enviado e depois uma semana e meia de espera. Nome na lista com o horário escolhido em primeiro lugar à frente e serei mais uma a procurar uma vida lá fora, embora a trabalhar para o governo português. Fiquei meio histérica e o meu coração deu um salto. Apeteceu-me ligar a toda a gente, mas para além de nós dois mais ninguém sabia de nada disto. Mantivemos segredo para não agoirar, por isso foi uma surpresa para todos, incluindo a família (à exceção da minha mãe).

Houve notícias dadas via facebook e por telefone, mas a maioria foi ao vivo e a cores. Quase ninguém sabia que tinha concorrido, por isso foram apanhados de surpresa e houve incredulidade e algum choque por ir novamente sozinha desta vez por um ano.


Ainda não sei a data da partida, mas sei que será no início do meu mês, já daqui a um par de semanas*. O que sei é que tenho coisas para resolver e listas de items é o que não falta por estes dias em cima da minha secretária: listas de produtos de beleza a comprar para que a bolsa vá composta e não seja precisa alguma coisa de última hora e depois não dê jeito (bem, não vou para o fim do mundo, mas gosto sempre de ir prevenida com as coisas que uso); o mesmo se passa com o material escolar. Já tinha comentado aqui que teria de renovar e agora que vou ser professora lá fora apetece-me levar a mala do trabalho já pronta a ter as primeiras aulas.  A propósito de me and youlistas, há uma lista que não chegou ao papel, mas está a ser bem cumprida (e comprida também…) que é a lista das arrumações e dos afazeres cá em casa. Já tinha pensado em fazer umas limpezas enquanto estou de férias, mas agora com esta mudança toda, as limpezas e arrumações são mesmo necessárias. Há coisas para pôr na mala e levar, outras que já tiveram o seu tempo e vão juntar-se aos sacos no sótão, que estão só à espera que os leve para o contentor da Humana. Ando a destralhar e a arrumar direitinho e sinto-me mais leve, porque vai sendo uma coisa de cada vez, como eu tanto gosto.

Ando cheia de vontade de ir buscar a mala e começar a pôr a roupa e os meus objetos essenciais lá dentro para ter tudo pronto no fim do mês, mas enquanto a mala estiver por arrumar vou continuar naquela zona cinzenta em que tudo isto parece um sonho e eu estou prestes a acordar. Quando começar a empacotar as coisas já não há mesmo volta a dar!
E eu gosto tanto deste nervosismo que antecede a partida, mas sabe-me sempre a tempo pouco gozado. Só penso como vai ser? E o sítio será que é bonito? Vejo fotos e acalmo um pouco da ansiedade, mas é sempre diferente quando estou prestes a embarcar com coração na boca para mais uma aventura.
Como sempre na nossa vida, Eu vou, tu ficas, mas venha o que vier e seremos sempre nós!

*Entretanto já sei que vou já domingo, já daqui a 3 dias! Escrevi este texto em meados de agosto, mas nunca pensei que pelo meio destas semanas todas tivesse tanto tempo para pensar!

sábado, 16 de março de 2013

Semana 28 - Inspira, expira

some days
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Quem for hoje aqui ao blog ali ao lado deve pensar, e com muita razão, que sou bipolar! Ontem agendei o post sobre a felicidade porque me fez continua a fazer todo o sentido, mas para isso é preciso que as coisas se proporcionem, e se encaixem nos sítios certos. E nem sempre isso acontece.

Há dias em que acordo assim a pôr tudo em causa, em que estou só por estar, e a cabeça anda perdida noutro sítio qualquer. Penso num milhão de coisas e nada me faz sentido. Não me sinto deprimida nem nada que se pareça (bye-bye antidepressivos desde meados de fevereiro!), mas fico meio embirrada com a vida e com as partidas que nos prega e com as coisas que se alteram em menos de nada.

Não percebo porque é que por mais cedo que acorde chego sempre atrasada à primeira aula da manhã. Sei que me perco a fazer trabalho útil (ou talvez a agendar posts, porque me dá prazer!) e a imprimir fichas e a enviar mails para os formandos com o material das aulas.  Não percebo o que é isso tem a ver com esta ansiedade que nunca me larga. Não atino com o motivo porque é que quando ando stressada me dá um desejo incontrolável de comer chocolates e outras porcarias altamente calóricas (a química explica, I guess!) e que depois se revela em não me sentir tão bem como gostaria no corpo que tenho.

Não compreendo esta vontade de fazer tudo bem que se torna destrutiva e me faz andar sempre com a angústia de mão dada com a adrenalina. Gosto de ter tudo nos eixos, mas nem sempre a minha vida depende só de mim e quando não depende e tenho de desculpar os erros e as faltas de organização de terceiros, ainda fico a sentir-me mais irritada.

Há dias, como hoje, em que sinto que a minha cabeça vai explodir tal o ritmo dos pensamentos que por aqui vai. Espiral supersónica que nem com um cappucino acalmou. [No meio de todo este rebuliço, tento respirar fundo e manter a calma.]

Penso no meu avô que com 81 anos e sempre cheio de saúde e de força tem estado mais dias internado nos últimos meses do que no resto dos seus anos de vida. Penso nesta injustiça que é a vida e as doenças que nos traz. E do sofrimento que nos causa a todos. Aos que sofrem na pele os problemas, e aos que se sentem impotentes para aliviar os que amamos.

Lembro-me de todas as coisas boas que já me aconteceram e por mais estúpido que possa parecer, só me dá vontade de chorar. Penso em tudo o que gostava de fazer na vida e que, mesmo por serem coisas realizáveis, vão ficando sempre para segundo plano. Ainda para mais sabendo que há momentos importantes que daqui a uns anos vão ser lembrados com nostalgia mas com a sensação de terem passado rápido demais.

Penso no pouco tempo que passo com a minha família supostamente por causa do trabalho (que também me realiza), mas que não pode ser a ‘desculpa’ para tudo. Quando estou com eles fisicamente, a minha cabeça está normalmente focada no que vem a seguir, no que tenho para fazer dali a umas horas, mas quando não estou apercebo-me dos dias a passar e sinto que fico sem tempo e sem conseguir imortalizar aqueles momentos preciosos em que o meu sobrinho já balbucia algo mais que umas letras e o meu nome já soa quase, quase completo.

Vejo e leio as notícias na diagonal e dá-me um aperto no coração com estes acontecimentos. Caramba para estas coisas que acontecem a quem menos espera e que vê a sua vida levar uma reviravolta e fugir-lhe a esperança. É por estas e por outras, que vou desabafando por aqui o que me acontece, mas não me queixo.

Dias melhores virão, de certeza!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Semana 27 - Coisas estúpidas

stupid things
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Aqui há uns tempos surgiu uma polémica enorme na net acerca do comportamento das crianças, se são hiperativas ou mal-educadas a partir de uma crónica do Henrique Raposo. E eu fiquei a pensar se não vivemos todos numa sociedade demasiado permissiva e desculpabilizadora dos comportamentos dos infantes?

Quando li o artigo concordei (e agora ainda concordo mais!) porque há por aí muitos pais que decidem pôr crianças no mundo e depois se ‘esquecem’ do mais importante que é dotá-las de regras de convivência social. Há muita má-educação a grassar por esse país fora e alastra-se como fogo em mato seco, e chega uma altura que os pais deixam de ter poder para controlar. Noutras situações, os pais pegam no lado errado na questão e isso é muitíssimo frustrante! Sei que há muitas crianças hiperativas e tive alunos a tomarem medicação e muitas vezes a situação torna-se muito difícil de gerir, porque as crianças não são passíveis de serem amestradas, nem é isso que se pretende, mas concordo com o artigo principalmente na referência à falta de regras que vemos todos os dias basta sair à rua.

failure
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Vamos imaginar a seguinte situação: escola com ótimas condições, professora de Inglês nas AECs dedicada e empenhada que se esforça por fazer aulas interessantes e motivadoras para os alunos, mas tem alunos que não se calam e se portam mal* - não respeitam a autoridade da professora nem demonstram ter o mínimo de conhecimento das regras da boa educação na sala de aula, que nem com recados, castigos e cópias de frases ’Tenho de me portar bem’ encaixam as ditas regras. Há um diálogo constante com os colegas titulares das turmas e ainda assim o comportamento dos alunos não melhora, mesmo depois de uma reunião com o responsável da associação de pais da turma mais problemática.

O que acham que acontece com um turma de 23 alunos? Há reuniões de pais com todos os professores envolvidos (neste caso eu e os colegas titulares) para se perceber porque é que os alunos se portam assim e encontrar-se medidas corretivas adequadas? Ou dispensa-se a professora? Um prémio para quem adivinhar!

Pois é, ganhou a hipótese B! Fui dispensada da escola onde gostava tanto de trabalhar por causa do comportamento do miúdos (achava eu que seria por causa dos problemas com essa turma, mas afinal houve queixas de indisciplina nas minhas aulas em 3 turmas diferentes, que eu ainda estou para perceber de onde vieram…) e mesmo estando agora mais conformada com a situação, fiquei indignada com a reles consideração que tiveram por mim. Não fiquei com ressentimentos contra ninguém, até porque eu não sou assim, mas quando há responsáveis de escolas que preferem o lado dos pais (já que são eles que providenciam muitas vezes os materiais necessários, exemplo disso – os quadros interativos) ao trabalho dos professores, acho que há um ponto importante que se perdeu no caminho! Sempre me disseram naquela escola que o meu trabalho pedagógico era ótimo -  as atividades com os miúdos, as fichas que preparava, as organização das aulas e a dedicação – o que ainda torna a situação mais surreal! Então se o meu trabalho é bom e são os miúdos que se portam mal, sou eu que sou dispensada?

Isto faz algum sentido?? Para mim definitivamente não! Aqui se vê que os comportamentos menos próprios e a falta de regras não são exclusivos de estratos sociais mais baixos. Do que tenho percebido, os pais com mais dinheiros mostram mais tendência mais desculpabilizar os filhos, porque a culpa não pode ser das crianças. Têm tudo o que querem e ainda se portam mal? Não pode ser!

actionsAhhh! Pois, se calhar o problema está na postura da professora, que não tem empatia suficiente com os meninos ou tem um energia um pouco agressiva. Mas é o quê? É óbvio que a empatia se tem ou não se tem, não conseguimos agradar a toda a gente e tudo isso influencia a relação que temos com as pessoas e delas connosco, mas se os miúdos vêm ter comigo no intervalo e falam comigo alegre e espontaneamente e gritam pela ‘teacher’ quando me veem no pátio, será que isso quer dizer que não gostam de mim? Devo ter os sensores da perceção avariados, então.

Eu não sei o que dizer mais, a não ser que foi uma conjugação infeliz de vários fatores e que culminou na minha saída de lá. Até parece que fui o bode expiatório de alguma coisa e eu até pensava que janeiro não estava a começar mal e até estava contente com os resultados do desafio 'Berra-me Baixo'! Esta 4ª feira fui lá organizar a papelada nos dossiers das turmas e ainda trouxe 2 para casa para acabar de pôr os trabalhos dos miúdos bem organizados para a colega que me vai substituir e fiquei a pensar no dinheiro que gastei: dossiers, separadores, resmas de papel, tinteiros e que obviamente nunca me foi pago. Gastei porque quis, para ter as coisas à minha maneira e organizar as aulas sem estar dependente do plafond das fotocópias (100 alunos não se torna fácil de gerir também a esse nível, porque mesmo que só quisesse 2 cópias por semana por turma no final do mês seriam 800 cópias e isso multiplicado por outros tantos professores não ia ser fácil, mas até isso eu compreendo) e no fim vejo-me a preencher avaliações intercalares de alunos que já não vou ter mais e ainda tenho de preencher avaliações finais para facilitar a vida à colega e para haver documentação do mês de janeiro.

No meio de tudo isto, o que é que se responde quando há um miúdo que vem ter comigo no pátio e me pergunta ‘teacher, quando é que voltas?’ Balbuciei qualquer coisa e virei-lhe as costas com o coração apertado e uma revolta enorme dentro do peito! O valor da dedicação realmente já não é o que era…

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* [há comportamentos muito piores e mais violentos, mas irritava-me solenemente não conseguir dizer mais do que duas frases seguidas sem ter de interromper e mandá-los calar!! Felizmente nunca tive de separar ninguém, porque não se agrediam, nem subiam mesas nem cadeiras, mas atiravam material escolar uns aos outros e passavam as aulas a cochichar!]

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Semana 26 - Como o tempo [ou então não…]

change takes time
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É que dar ouvidos à tristeza pode trazer-nos coisas boas. Ela vai entrando na nossa vida com pezinhos de lã, guardando como objectivo combater o nosso impulso natural para a felicidade.
Há dias em que não consigo explicar esta tristeza que sinto e que me impede de andar para a frente. Em sentido metafórico, mas também literal, porque não raros dias dou por mim a não querer sair de casa e com ainda menos vontade de ver alguém…

Já me conhecendo há 28 anos e uns meses, dou por mim com a certeza de que isto em mim não é normal. Eu, a pessoa mais alegre e dinâmica que conheço, sempre cheia de energia, de coisas para fazer, de planos e de ideias, com vontade de estar em casa e de não sair?? Nestes dias recordo o que me trouxe até aqui e por mais que me foque em situações, pessoas e acontecimentos, sei que não valerá a pena esse exercício. Parece-me irrelevante querer saber o porquê das coisas. Sinto que o que preciso é de virar a cara à luta e ir em frente. A minha personalidade alegre não se sente bem em estar assim, mas sei que preciso de perceber o que é realmente importante para mim e passar a valorizar mais essas pequenas-grandes coisas.

Tenho escrito muito sobre isso aí ao lado (aqui, aqui, aqui e aqui), durante o verão fiz um exercício de valorização desses pequenos momentos que se transformam em coisas importantes (esse exercício tem-se mantido, mas não de uma forma tão contínua) e muitas vezes consigo olhar para a minha vida e ver que consegui torná-la algo de louvável e estou grata por isso. Fiz o balanço do ano passado e houve muitas coisas más, mas houve outras muito boas que me têm dado ânimo nos dias maus.

Sei que o que sinto não tem a ver com o estado do tempo. Desejei o verão aqui, mas não seria o verão em si. Gosto muito do calor, mas o que desejava mesmo era poder fechar-me na minha concha e ficar por casa entregue às minhas coisas. E depois vejo frases assim e penso: ‘Mas porque raio é que me sinto assim?’
courage3
Descobri o que gosto de fazer [desde sempre é isto e é muito bom! Os sorrisos dos meus meninos é mesmo o melhor da profissão que me escolheu, apesar de haver dias em que não me apetece muito vê-los à frente…], ter oportunidade de o fazer e esforçar-me para isso. Infelizmente o reconhecimento do esforço nem sempre chega no final de cada dia e tenho-me sentido desmotivada, parece que o meu entusiasmo vai ficando em pedaços cada vez mais pequenos. Pode ser uma analogia muito estúpida, mas sinto-me como os sabonetes que vão sendo gastos de cada vez que são usados. De cada vez que dou uma aula, sinto que uma parte de mim fica lá, nos meus alunos, na dedicação que lhes dou, e se por um lado é recompensador, por outro mostra-me que o desgaste psíquico é uma caraterística da classe. Ainda não tinha pensado nisso assim.

E quando li este texto do Valter Hugo Mãe, ainda percebi isso melhor. Então, espaço a quem consegue conhecer a profissão do lado de fora, enquanto alguém que se sentiu ‘grande’ depois de aulas brilhantes.
“Mas sei, e disso não tenho dúvida, que há quem saiba transmitir conhecimentos e que transmitir conhecimentos é como criar de novo aquele que os recebe. Os alunos nascem diante dos professores, uma e outra vez. Surgem de dentro de si mesmos a partir do entusiasmo e das palavras dos professores que os transformam em melhores versões.”
Sei que a minha vida é um trabalho sempre inacabado para atingir uma melhor versão de mim mesma e se isso passa por momentos de reflexão e de ‘hibernação’ social, que seja. Só espero é que a felicidade da mudança e dos pequenos momentos não se perca pelo caminho. 
Quero ser uma versão de mim, mas uma versão mais feliz.