terça-feira, 31 de maio de 2011

Semana 8 - Crónica de um domingo que se previa triste

girl in bus boho-chic

“There are no foreign lands. It is the traveler only who is foreign.”
Robert Louis Stevenson

O coração não pára quando deixo de ver quem amo do outro lado do vidro. Nem a vida deixa de rolar. Mas a tensão sobe-me ao peito porque ainda há 5 minutos estávamos a falar e agora estou novamente entregue aos meus pensamentos.

E para não me deprimir começo a pensar: ‘e agora como é que eu saio daqui?’ Estou a falar mesmo literalmente, porque isto de andar por sítios que não se conhece tem estes inconvenientes. Mas como já disse algumas vezes nos últimos 15 dias: ‘Eu nunca perdi nenhum autocarro nem nenhum avião por terras alemãs, não vou começar hoje’. E ainda não foi desta.

Pela primeira vez no aeroporto de Hannover, sei que o S-Bahn não está a funcionar e não há placa a anunciar autocarros à vista. (Costuma haver ligação direta estação-aeroporto, mas no domingo estava parada, por isso fomos de táxi para lá.) Portanto, primeira coisa a fazer: ir ao posto de informações saber onde são os autocarros. Relativamente perto e até está um na paragem. Pergunto ao motorista se passa pela estação. ‘Não, mas passa pelo centro da cidade mais próxima e lá pode apanhar o S1 para a estação. Um segundo para decidir. Ok, óptimo. Eu já sei que nem sempre a maneira mais direta é a mais rápida. E isto aplica-se a tudo na vida. Com pequenos desvios também se chega ao destino e muitas vezes conhecem-se pessoas interessantes. Como hoje, por exemplo.

Entro no S, sento-me e à minha frente sentam-se duas raparigas pouco mais velhas que eu a conversar em inglês. Uma, a loira, explicava um mapa à outra, morena, magrita, de óculos e de cabelo comprido com uma mala de porão vermelha. Percebo que o mapa será de Hannover e começo a ler o meu livro. Em português, claro.

Quando me levanto para sair à chegada à estação, a rapariga morena está ao meu lado já sozinha, nem me apercebi que a loira já tinha saído entretanto, esta distração só pode ser por causa do livro, e pergunta-me ‘Mora aqui?’ em bom português. Bem, português com sotaque brasileiro, para não faltar à verdade, o que me faz sorrir surpreendida. Respondo-lhe e falamos um pouco. Fico a saber que a moça era brasileira de São Paulo e que estava em Hannover para uma feira de móveis que estaria a decorrer na cidade. Ainda a convido para um café, mas ainda tinha ‘treinamento’ e já não deu. Fiquei com pena, porque me pareceu que estava a precisar de companhia. Tinha uns olhos tristes.

Então comprei um heiβe Schokolade, phones nos ouvidos e apanho o comboio.  Uma hora e outro tanto de viagem até casa, que me apetecia interminável. Sol na janela, um bom livro, música e lembranças de sorrisos. Estas viagens assim costumam fazer-me bem e esta não foi exceção.
Apesar de ter ido deixar o mais-que-tudo ao aeroporto, mentalizo-me que a vida é muito mais que tristezas. 


(escrito domingo, dia 29 de Maio)

sábado, 21 de maio de 2011

Semana 7 - Breaking the reality

blog
Amigas tenho muito poucas. As da vida real contam-se pelos dedos de uma mão. Agora conhecidos tenho imensos. Daqui, dali e de além. Da infância, da escola, do sítio onde morei quase toda a vida, dos trabalhos e várias ocupações que tenho tido, as amigas do marido e por aí fora. E de há uns anos a esta parte, também entram nesta categoria os conhecidos da blogosfera. E o mais engraçado é que para além de conhecer centenas de pessoas e não haver ninguém de quem eu diga: ‘odeio esta pessoa’, também são poucas aquelas em quem posso confiar cegamente, ou com quem possa contar para as coisas realmente importantes.

Claro que a vida real é uma coisa e a vida virtual outra completamente diferente. E é óbvio que eu sei que não posso contar com ninguém da blogosfera para coisas que impliquem presença física, porque só há uma pessoa que conheço fisicamente e já era minha amiga antes de ambas termos blogs. Mas em termos de relações humanas, acho que a blogosfera consegue ser um mundo mais verdadeiro do que a vida real. (Eu não estou a falar naqueles blogs que se denominam hate blogs nem naqueles blogs de sátira. Cá me parece que quem se dedica a isso não deve ter mais nada que fazer na vida. E deve ter sido taxidermista noutra encarnação, visto que agora se dedique a dissecar a vida dos bloggers. A mim parece-me tudo muito simples: não gosta, não lê, não comenta e não chateia. Ponto final.)

Como na maioria dos casos não conhecemos as pessoas pessoalmente haverá, penso eu, mais tendência para só dizermos de nossa justiça e comentarmos o que tem mesmo a ver connosco. Aqui se nota que não sou adepta do eu-sigo-o-te-blog-e-tu-segues-o-meu. Eu tenho mais de 100 blogs no Google Reader e à exceção de uns muito conhecidos: como o da Pipoca mais Doce ou o da Pólo Norte que já sigo há muito tempo eu que me divertem, como a tantas outras pessoas, mas que raramente comento (apesar de já ter enviado algumas fotos a dizer I love Pólo Norte para o Quadripolaridades); os outros blogs todos posso considerá-los um bocadinho blogs de proximidade.

Mas é o quê? Pois, sinto-me próxima das pessoas porque em determinada altura me identifiquei com a vida de quem escreve, com alguns acontecimentos ou situações que descreve, com as fotos, as músicas ou as frases que vão publicando. Nestes casos vou deixando sempre alguns comentários, quando aquilo que leio reflecte de certa forma a minha vida.

E depois há os outros, aqueles que eu gosto muito, onde sou comentadora assídua, porque me sinto em casa por lá e porque encontro muito de mim nas palavras de outros. Muito provavelmente na vida real não teremos nada em comum, mas o meu instinto não me tem falhado. E acho muito giro quando quem escreve nos blogs que sigo e comento também me comenta. Não sei se identificam com o que escrevo ou se aquilo que escrevo fará algum sentido, mas a verdade é que me sinto acarinhada por haver gente que se dá ao trabalho de ‘me’ ler e comentar o que escrevo, mesmo não me conhecendo pessoalmente.

Essa será uma das razões pelas quais acho que a blogosfera não tem comparação possível com a vida real, porque não conhecendo as pessoas ao vivo, seremos ‘fãs’ daquilo que escreve. Bem, aqui poderia pegar naquilo que tanto se fala, que é o ‘marketing pessoal’. Eu não empolo situações que aconteceram na minha vida nem ando a fazer-me passar por quem não sou, só para alimentar o ego. Quem me conhece pessoalmente encontra no blog um espelho de mim. E muitas vezes tenho receio de me expor demais. Mas ao contrário de mim, tenho a certeza de que haverá por aí muita gente que tenta ser mais do que é só para preencher uma vida vazia. Adiante…

Não será também possível equiparar a blogosfera à vida real, porque na vida real não andamos a meter conversa com as pessoas – eu pelo menos não ando –, enquanto que por aqui podemos comentar os blogs que gostamos e se houver empatia recíproca, acabamos por ter bastante interação com as pessoas, podendo extrapolar da vida virtual para a vida real.

Da minha parte, gosto muito de conhecer a cara e os olhos de quem escreve o que gosto de ler. E não me parece que seja assim uma coisa tão transcendente tornarmo-nos amigos das pessoas no facebook. Eu acho graça a conhecer um bocadinho mais das pessoas através dos estados do facebook. Quem nunca teve um amigo ou amiga no Mirc com quem gostasse de se encontrar pessoalmente? Ou com quem trocasse sms? Pois, é a mesma coisa. A tecnologia é que vai evoluindo…

terça-feira, 10 de maio de 2011

Semana 6 - To teach or not to teach...

teach
O senhor Galileu até pode ter muita razão, mas como é que nós vamos fazer ver à criançada que tem tanta coisa para descobrir por si própria, se os miúdos não conseguem estar 5 minutos calados? Estou em crer que estou a pagar penitência pelos inúmeros ralhetes dos professores durante os 12 anos de escolaridade ‘obrigatória’.

É que uma coisa é haver burburinho na sala, outra coisa bem diferente é não fazerem nada a não ser conversar. Eu sei que sempre fui faladora demais e que muitas vezes tinha de ser chamada a atenção, mas quando era para trabalhar, trabalhava e se era para estar calada também não havia problema. E o que mais me envergonhava era que os professores dissessem o meu nome na aula e a seguir um ‘Calada!’ bem alto. Ficava coradíssima e enquanto me lembrasse disso, não abria a boca! Ao contrário dos alunos de agora, que não se importam nada de ser chamados à atenção e ainda gozam a situação e aproveitam para se rir e conversar mais um bocado. Quando começam assim, só me apetece pregar-lhes um calduço para ver se aprendem a fechar a matraca!

À parte de ainda ser nova nisto de ser professora e ter de preparar aulas e organizar materiais e tal, o que me chateia mais é mesmo o comportamento dos miúdos. Se eu ainda ando a ‘apalpar terreno’ na organização das aulas, os miúdos estarem sempre a falar e com pouca atenção também não ajuda muito. Pois, é que ter de preparar as aulas e os materiais e as fichas e a sequência das actividades já não é nada fácil, tendo em conta que temos de tentar sempre motivar os alunos para que não dispersem a atenção e gostem do que estão a fazer, então fazer isso e gerir as atitudes e os comportamentos deles numa sala em que tenho 3 níveis diferentes é assim uma coisinha gira, gira! Ontem foi a primeira aula em que senti que tínhamos conseguido cumprir os objectivos, embora haja ‘criaturas’ que me continuem a irritar.

Sim, porque seria injusta se dissesse que não há alunos que gosto mais do que outros, mas para ser politicamente correcta nós dizemos que gostamos de todos por igual, embora haja alguns que nos dão ‘pica’, porque querem saber mais e fazer mais e aprender tudo o que há para aprender. - Eu acho que fui uma aluna assim –. E depois há os outros, os que vão às aulas porque são obrigados, mas que preferiam estar noutro sítio qualquer a fazer outra coisa. Os que têm como divertimento preferido nas aulas chatear os professores. Uma vez disse a um miúdo do 10º ano ‘Se não estás aqui a fazer nada e só estás a perturbar a aula, faz o favor de sair!’ e o miúdo saiu mesmo! Depois eu fiquei a sentir-me um bocadinho angustiada, porque tinha de justificar à Directora de Ano aquela falta, mas ela disse que eu fiz muito bem e realmente ele começou a portar-se melhor!

Acho que percebeu que tinha esticado a corda ao máximo e lhe tinha corrido mal. Mas o que fazer quando eu sou a única responsável pela gestão dos conflitos, ou melhor dizendo, sou a responsável para o bem e para o mal, pelas aulas, pela gestão dos horários e das turmas e de tudo o que acontece relativamente aos cursos? Há dias em que me sinto a navegar num barco à vela sem sair do mesmo sítio e sem qualquer ajuda possível. Bem, eu sei que tenho um coordenador, mas passam-se semanas sem falar com ele e já percebi que é suposto as coisas seguirem com normalidade e sem haver muita interação.

Nas escolas portuguesas, apesar de todas as queixas e problemas, quando há algum dúvida ou situação para resolver há sempre alguém a quem recorrer. Aqui resta-me organizar tudo o melhor possível para que não haja dias em que me apeteça pregar uma estalada em algum cachopo. Diz que é anti-pedagógico e que as crianças ficam traumatizadas! Eu até não sou apologista da violência, mas há vezes em que me parece que há 30 anos era melhor, porque os miúdos tinham mais respeito aos professores. Não sei se seria por causa das reguadas ou se a escola realmente teria maior importância na vida das famílias.

O que eu sei é que a minha mãe só fez a primária e foi a melhor aluna do 4º ano e o meu pai (apesar de ter chumbado no 8º ano) conseguiu completar o 11º ano e nenhum ficou traumatizado com reguadas ou castigos e souberam transmitir a importância dos estudos. Está a parecer-me é que tenho de ir saber como é que isso se faz, porque há dias em que me apetece tudo menos dar aulas a miúdos que não têm muita vontade de aprender!