“There are no foreign lands. It is the traveler only who is foreign.”
Robert Louis Stevenson
O coração não pára quando deixo de ver quem amo do outro lado do vidro. Nem a vida deixa de rolar. Mas a tensão sobe-me ao peito porque ainda há 5 minutos estávamos a falar e agora estou novamente entregue aos meus pensamentos.
E para não me deprimir começo a pensar: ‘e agora como é que eu saio daqui?’ Estou a falar mesmo literalmente, porque isto de andar por sítios que não se conhece tem estes inconvenientes. Mas como já disse algumas vezes nos últimos 15 dias: ‘Eu nunca perdi nenhum autocarro nem nenhum avião por terras alemãs, não vou começar hoje’. E ainda não foi desta.
Pela primeira vez no aeroporto de Hannover, sei que o S-Bahn não está a funcionar e não há placa a anunciar autocarros à vista. (Costuma haver ligação direta estação-aeroporto, mas no domingo estava parada, por isso fomos de táxi para lá.) Portanto, primeira coisa a fazer: ir ao posto de informações saber onde são os autocarros. Relativamente perto e até está um na paragem. Pergunto ao motorista se passa pela estação. ‘Não, mas passa pelo centro da cidade mais próxima e lá pode apanhar o S1 para a estação. Um segundo para decidir. Ok, óptimo. Eu já sei que nem sempre a maneira mais direta é a mais rápida. E isto aplica-se a tudo na vida. Com pequenos desvios também se chega ao destino e muitas vezes conhecem-se pessoas interessantes. Como hoje, por exemplo.
Entro no S, sento-me e à minha frente sentam-se duas raparigas pouco mais velhas que eu a conversar em inglês. Uma, a loira, explicava um mapa à outra, morena, magrita, de óculos e de cabelo comprido com uma mala de porão vermelha. Percebo que o mapa será de Hannover e começo a ler o meu livro. Em português, claro.
Quando me levanto para sair à chegada à estação, a rapariga morena está ao meu lado já sozinha, nem me apercebi que a loira já tinha saído entretanto, esta distração só pode ser por causa do livro, e pergunta-me ‘Mora aqui?’ em bom português. Bem, português com sotaque brasileiro, para não faltar à verdade, o que me faz sorrir surpreendida. Respondo-lhe e falamos um pouco. Fico a saber que a moça era brasileira de São Paulo e que estava em Hannover para uma feira de móveis que estaria a decorrer na cidade. Ainda a convido para um café, mas ainda tinha ‘treinamento’ e já não deu. Fiquei com pena, porque me pareceu que estava a precisar de companhia. Tinha uns olhos tristes.
Então comprei um heiβe Schokolade, phones nos ouvidos e apanho o comboio. Uma hora e outro tanto de viagem até casa, que me apetecia interminável. Sol na janela, um bom livro, música e lembranças de sorrisos. Estas viagens assim costumam fazer-me bem e esta não foi exceção.
Apesar de ter ido deixar o mais-que-tudo ao aeroporto, mentalizo-me que a vida é muito mais que tristezas.
(escrito domingo, dia 29 de Maio)
(escrito domingo, dia 29 de Maio)