quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Semana 17 – Carta de motivação

work by steve jobs
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Cara chefe,
Eu sei que não tenho dedicado muito tempo a pensar nas razões que me levam a trabalhar nestes moldes, e se o fizesse só me perguntaria para quê? Tenho a certeza absoluta de que isto foi sempre o que quis fazer. Percebo perfeitamente o sr. Jobs quando afirma que só se fazendo o que se gosta é que se viverá satisfeito.

Bem, a minha felicidade passa em grande parte por saber que as minhas competências se encaixam entre o ser social e o ser responsável e trabalhador que se empenha o máximo em todas as tarefas. Podia ser a pessoa mais organizada e metódica do mundo (que não sou) e depois não ter a sensibilidade suficiente para lidar com alunos de anos tão diferentes entre si como o 1º ou o 12º, já para não falar na formação.

Gosto deste equilíbrio entre a técnica e os conhecimentos e o desenvolvimento da vertente da comunicação que este trabalho permite. Gosto particularmente de conseguir aplicar na minha vida a máxima perfeita de Confúcio: ‘Choose a job you love, and you’ll never have to work a day in your life’, porque muitas vezes sinto que não devia receber por estar a fazer algo que gosto tanto.

E não deixa de ser verdade que há dias difíceis neste trabalho que escolhi, mas é bom ter a certeza que todos os dias faço o meu melhor para conseguir responder a todas as solicitações dos alunos. Gosto de chegar a casa cansada, mas com a sensação que não havia mais nada que pudesse fazer para que tudo corresse bem. Muitas vezes acontece ter de pensar rápido para conseguir resolver as situações, mas isso faz parte do pacote com que saímos da faculdade. Ou então não, porque me sinto a melhorar todos os dias e não houve ninguém a ensinar-me a pensar rápido na faculdade.

Pensar rápido implica muita coisa, desde ralhetes até improvisar situações novas de aprendizagem, passando por resolver a falta de fotocópias, imaginar flashcards, ter presença de espírito em todas as situações dentro e fora da sala para não haver atitudes demasiado extremas com os alunos e para se manter uma boa relação com os colegas. Pensar rápido também quer dizer não deprimir quando se recebe o ordenado e se percebe que uma parte do que estamos a receber não é nossa.

Não, claro que não nos foi pago dinheiro a mais. É só aquela percentagem que temos de pagar ao estado em descontos, nada de surpreendente, portanto. Felizmente, e por vários motivos, ainda não comecei a pagar isso, mas quando começar espero não me vir a arrepender de ter este regime de trabalho.

Este regime de trabalho tem as vantagens de me permitir ser independente e gerir o próprio tempo. E se na parte de gerir o meu tempo não há problema nenhum, porque todas as atividades que estou a desempenhar estão bem encaixadas no meu horário, o facto de ser independente também é uma mais-valia porque não estou dependente de nenhuma empresa. Posso trabalhar em vários sítios a fazer várias coisas, o que só vai beneficiar o meu currículo. E consigo ter algum tempo para almoçar com a minha família ou às vezes com as amigas. Não há muito tempo livre, mas o que há é bem aproveitado.

Então à primeira vez parece-me que não há nenhuma desvantagem. Ganho mais do que ganharia a trabalhar só numa empresa, tenho um horário de trabalho flexível, não tenho um trabalho monótono nem rotineiro, conheço muitas pessoas e vários métodos de trabalho. Até aqui tudo ótimo. As desvantagens só aparecem no fim. Do mês e dos trimestres.

No fim do mês porque há um sem-fim de recibos para preencher para as várias entidades com que trabalho, o que significa se não tiver trabalhado é claro que não recebo. Não há subsídio de doença que me valha se tiver de ficar em casa por motivo de doença por um período inferior a 30 dias. Se pensar em ter um filho, neste momento já receberia subsídio, nem sei bem em que moldes, mas como também não está previsto não é problemático. E também há o pagamento à Segurança Social que me permitirá receber estes subsídios, caso seja necessário.

No final dos trimestres também há o pagamento do IVA e a retenção na fonte, que representam uma fatia generosa do que recebemos. Percebo que se ganhe mais como trabalhador independente porque as despesas são inúmeras e a organização tem de ser muito maior. Temos de ter um registo apertado para sabermos sempre em que ponto está a situação fiscal para não haver surpresas. Já não basta cada aula ser sempre diferente, apesar de planeada, quanto mais ainda haver surpresas desagradáveis relacionadas com dinheiro.

Obviamente que mesmo tudo somado, adoro o que faço. Sou professora, claro! E não saberia ser outra coisa!

3 comentários:

  1. Amei!
    Fico feliz por saber que estás bem, o teu "trabalho" te faz feliz, e que apesar de existir uma certa insegurança ou instablilidade financeira, consegues obter uma estabilidade emocional tão importante para nos martermos de pé.
    sabes eu trabalhei durante 15 anos como profissional liberar, vivi e senti todas as consequencias menos boas de não ter uma profissão com horário e remuneraçao certa, mas nunca me passou pela cabeça trabalhar de outra forma.
    Beijinhos

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  2. Acho que os temas abordados neste post dariam para horas de conversa!

    Achei curioso que tivesses escrito que na faculdade ninguém nos ajuda a pensar rápido. Concordo contigo. A faculdade - nos cursos de letras, pelo menos - dá-nos ferramentas-base e desenvolve/exercita o nosso espírito crítico e analítico. Tudo o resto que depois temos de aplicar na vida real é sobretudo fruto de "learning by doing" e, isto sim, já é comum a todas as áreas. Também não aprendes a conduzir bem só com as aulas na escola. Vais aprendendo consoante as situações que vão surgindo.

    Quanto à relação dialética entre o ser social e o ser profissional, não podia concordar mais contigo! De que te serve teres toda a teoria se depois não a consegues adaptar em função dos contextos sociais em que precisas de os aplicar. E na área do ensino, assim como todas as áreas em que as relações interpessoais são factor-chave, isso é absolutamente essencial!

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  3. É impressionante como uma profissão tão nobre, séria e com tanto impacto no futuro dos cidadãos é tão mal tratada...
    E se é verdade que nos outros países também a educação está em crise, que a torto e a direito se fazem reformas e reformas, a verdade é que não conheço país onde há uma tão grande precariedade, tantas mudanças de cidade, tanta instabilidade...
    Ser professor é um dom e eu acredito que a grande maioria dos docentes o sejam por amor, paixão. Gostava tanto que estas coisas mudassem, cá em Portugal! Tanto!
    Obrigada por este texto lindo!
    Um bjinho, meu doce!

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