segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Semana 24 - Portugal ao contrário

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Sou pessimista porque sou lúcido, disse Manuel Cavaco em entrevista no Alta Definição e na altura, apesar de não concordar muito, guardei a frase porque podia vir a fazer sentido. Tinha razão.

Não é que me tenha transformado em pessimista, mas acho que esta crise veio fazer-nos olhar para as nossas vidas de uma forma mais crua. Eliminam-se os excessos, corta-se o supérfluo, perde-se o brilho no olhar, mas continuamos a viver neste país que é o nosso, pelo menos até perdermos toda e qualquer esperança que ainda nos reste na alma. A quem acontece isso, resta-lhe o sonho de que noutro lado será mais feliz do que neste país que parece que não nos quer cá. A nós jovens, ou até aos mais velhos que deixaram de acreditar no seu país e que muitas vezes saem de Portugal sem saber que condições vão encontrar! Agora lembrei-me que já tinha escrito sobre isso aqui, a propósito da manifestação de março do ano passado. E continuo a achar o mesmo!

Há umas semanas na formação profissional que estou a dar (a pessoas que estão desempregadas) discutiram-se os direitos adquiridos que desapareceram, a quantidade de burocracia existente em tudo o que é serviço público e toda uma série de problema que existem no nosso país e que só complicam a vida das pessoas. Eu só olhava para os meus formandos com um misto de compreensão e perplexidade. Em parte eu percebo a angústia das pessoas porque se sentem completamente devastadas com a perda dos direitos adquiridos e com o mau funcionamento das coisas em Portugal, principalmente com a facilidade dos despedimentos e o fraco ou inexistente controlo dessas situações por parte do Estado. Os ricos continuam a ficar cada vez mais ricos à custa dos contribuintes, que estão cada vez mais pobres e desempregados, porque o desemprego já atinge cerca de 15% da população ativa.

Os direitos pelos quais as pessoas lutaram e continuam a lutar estão a desvanecer-se num mar de medidas supostamente anti-crise que tornam cada vez mais difíceis as vidas das famílias. Já somos mais papistas que o Papa a apertar um cinto que já não tem mais buracos por onde apertar. As pessoas perdem o emprego, muitas famílias perdem as casas, a vida económica do país está a estagnar sem nada podermos fazer porque votámos neste governo e em todos os últimos governos que nos puseram nesta situação!

As pessoas manifestam-se com grande alarido ou
com um silêncio assustador contra tudo o que está a acontecer no país. Há greves, há marchas do povo que enchem as ruas de Lisboa e de várias cidades pelo país contra a Troika a instigar o regresso das vidas anteriores à crise, há imagens que marcam essas manifestações que não são mais do que uma tentativa de tornar mais humanas e mais racionais essas demonstrações do sentimento de revolta do povo português. Há quem abrace polícias ou quem lhe entregue cravos a relembrar uma outra revolução que mudou o país. Escreveu-se sobre isso na blogosfera a contar como foi quem lá esteve, viram-se reportagens durante toda a semana a contar o que aconteceu no dia 15 de setembro e ainda há referências a esse sábado como um dos mais marcantes dos últimos meses.

Depois há o outro lado. O sentimento da inevitabilidade do fado português. A vida é assim e não podemos fazer nada para a mudar, o que me irrita sobremaneira. Sei que muitas das pessoas que vão às manifestações e fazem greve, estão cansadas e queixam-se com razão, mas de que lhes vale queixarem-se e manifestarem-se se é só isso que fazem e não dão o seu contributo para que as coisas melhorem? O desemprego aumenta, mas quem ainda tem trabalho deve esforçar-se para que o seu trabalho importe e sirva de alguma coisa. Não é só a queixarmo-nos que as coisas se resolvem. É a trabalhar, é a dar o nosso melhor, é a tentar ver a vida por outro prisma, de outra perspetiva que podemos melhorar o nosso país. Há quem ‘invente’ T-shirts contra a Troika, quem faça contas à vida e tome opções mais coerentes com as condições atuais, quem se torne adepto do low-cost para conseguir continuar a fazer o que goste e a gastar muito menos.

z povinhoO governo devia aprender com as pessoas que uma logística equilibrada é feita de maior receita e menor despesa e por isso devia primeiro eliminar o que está a mais (despesas pesadas na máquina do estado que são os contribuintes que pagam: carros, luxos, assistentes, secretários e por aí fora…), e logo aí ser veria que não seria necessário aumentar tanto os impostos, porque a balança ia começar a ficar mais equilibrada. Ou então também pôr os olhos em medidas que se tomam lá fora que não prejudicam tanto as pessoas ou pelo menos atenuam as medidas de austeridade que nos são impostas todos os dias. 

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Para além disso, devia ter-se mais atenção e respeitar a república, já que não se tem respeitado as pessoas. Ter uma bandeira ao contrário na comemoração do aniversário da instituição da República é grave e a meu ver sintomático do que se passa com o país! Já ouvi dizer que não vivemos num estado de direito, vivemos num ‘estado de sítio’.  Temos de levar as coisas com ironia, sim senhor (Já não há pachorra para tanta metáfora que envolve a bandeira ao contrário. Estamos tão sensíveis aos símbolos nacionais. Agora só falta todos aprendermos a cantar o hino. Ah, e votar!!!), mas também temos a obrigação de pensar no futuro do nosso país de uma forma séria, já que estamos a ficar sem esperança. O que mais se vê por estes dias em Portugal é gente sem esperança, sem fé no futuro. Gente que já não acredita num amanhã melhor.

Infelizmente não é só de gente crescida que estou a falar. Cada vez há maior dificuldade em explicar às crianças o porquê da crise. Porque é que têm de deixar de fazer as suas atividades preferidas ou porque é que têm de estudar se não sabem se vão ter emprego, ou porque é que o pai ou a mãe não tem trabalho ou porque é que as coisas em casa estão tão diferentes. Já há livros que explicam a crise às crianças, mas eu acho que as crianças precisam é de poder sonhar e não de estarem preocupadas com coisas que não compreendem.

Para mim, as crianças são o que de melhor um país tem, porque são elas que nos irão governar, por isso devem ter a sua infância resguardada dos problemas e aprender a crescer e a pensar. Se tiverem de crescer com meia dúzia de brinquedos em vez de terem um quarto cheio, concordo. Se tiverem de aprender a não serem esquisito com a comida, com a roupa ou com as brincadeiras, apoio a 100%. Se não puderem ir para a natação, podem ir correr para o jardim com os pais. E muitas outras variantes para o mesmo tema.

Há tempo para tudo, e neste tempo em que vivemos, também concordo que as crianças devem ser imunes o máximo possível a esta crise, mas tendo consciência de que os tempos em que vivemos são difíceis. Só assim conseguiram valorizar as coisas boas que têm. Aí também podemos aprender com elas. A valorizar as coisas boas que ainda temos, porque a nossa vida não pode ser só esta crise de que falamos todos os dias! Neste momento continuo um pouco otimista, mas muito mais lúcida! 

1 comentário:

  1. Querida,
    Mudei o link do blogue, se quiseres continuar a seguir-me, este é o novo link: http://withloveblogue.blogspot.pt/

    Beijinho :)

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