sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Semana 27 - Coisas estúpidas

stupid things
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Aqui há uns tempos surgiu uma polémica enorme na net acerca do comportamento das crianças, se são hiperativas ou mal-educadas a partir de uma crónica do Henrique Raposo. E eu fiquei a pensar se não vivemos todos numa sociedade demasiado permissiva e desculpabilizadora dos comportamentos dos infantes?

Quando li o artigo concordei (e agora ainda concordo mais!) porque há por aí muitos pais que decidem pôr crianças no mundo e depois se ‘esquecem’ do mais importante que é dotá-las de regras de convivência social. Há muita má-educação a grassar por esse país fora e alastra-se como fogo em mato seco, e chega uma altura que os pais deixam de ter poder para controlar. Noutras situações, os pais pegam no lado errado na questão e isso é muitíssimo frustrante! Sei que há muitas crianças hiperativas e tive alunos a tomarem medicação e muitas vezes a situação torna-se muito difícil de gerir, porque as crianças não são passíveis de serem amestradas, nem é isso que se pretende, mas concordo com o artigo principalmente na referência à falta de regras que vemos todos os dias basta sair à rua.

failure
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Vamos imaginar a seguinte situação: escola com ótimas condições, professora de Inglês nas AECs dedicada e empenhada que se esforça por fazer aulas interessantes e motivadoras para os alunos, mas tem alunos que não se calam e se portam mal* - não respeitam a autoridade da professora nem demonstram ter o mínimo de conhecimento das regras da boa educação na sala de aula, que nem com recados, castigos e cópias de frases ’Tenho de me portar bem’ encaixam as ditas regras. Há um diálogo constante com os colegas titulares das turmas e ainda assim o comportamento dos alunos não melhora, mesmo depois de uma reunião com o responsável da associação de pais da turma mais problemática.

O que acham que acontece com um turma de 23 alunos? Há reuniões de pais com todos os professores envolvidos (neste caso eu e os colegas titulares) para se perceber porque é que os alunos se portam assim e encontrar-se medidas corretivas adequadas? Ou dispensa-se a professora? Um prémio para quem adivinhar!

Pois é, ganhou a hipótese B! Fui dispensada da escola onde gostava tanto de trabalhar por causa do comportamento do miúdos (achava eu que seria por causa dos problemas com essa turma, mas afinal houve queixas de indisciplina nas minhas aulas em 3 turmas diferentes, que eu ainda estou para perceber de onde vieram…) e mesmo estando agora mais conformada com a situação, fiquei indignada com a reles consideração que tiveram por mim. Não fiquei com ressentimentos contra ninguém, até porque eu não sou assim, mas quando há responsáveis de escolas que preferem o lado dos pais (já que são eles que providenciam muitas vezes os materiais necessários, exemplo disso – os quadros interativos) ao trabalho dos professores, acho que há um ponto importante que se perdeu no caminho! Sempre me disseram naquela escola que o meu trabalho pedagógico era ótimo -  as atividades com os miúdos, as fichas que preparava, as organização das aulas e a dedicação – o que ainda torna a situação mais surreal! Então se o meu trabalho é bom e são os miúdos que se portam mal, sou eu que sou dispensada?

Isto faz algum sentido?? Para mim definitivamente não! Aqui se vê que os comportamentos menos próprios e a falta de regras não são exclusivos de estratos sociais mais baixos. Do que tenho percebido, os pais com mais dinheiros mostram mais tendência mais desculpabilizar os filhos, porque a culpa não pode ser das crianças. Têm tudo o que querem e ainda se portam mal? Não pode ser!

actionsAhhh! Pois, se calhar o problema está na postura da professora, que não tem empatia suficiente com os meninos ou tem um energia um pouco agressiva. Mas é o quê? É óbvio que a empatia se tem ou não se tem, não conseguimos agradar a toda a gente e tudo isso influencia a relação que temos com as pessoas e delas connosco, mas se os miúdos vêm ter comigo no intervalo e falam comigo alegre e espontaneamente e gritam pela ‘teacher’ quando me veem no pátio, será que isso quer dizer que não gostam de mim? Devo ter os sensores da perceção avariados, então.

Eu não sei o que dizer mais, a não ser que foi uma conjugação infeliz de vários fatores e que culminou na minha saída de lá. Até parece que fui o bode expiatório de alguma coisa e eu até pensava que janeiro não estava a começar mal e até estava contente com os resultados do desafio 'Berra-me Baixo'! Esta 4ª feira fui lá organizar a papelada nos dossiers das turmas e ainda trouxe 2 para casa para acabar de pôr os trabalhos dos miúdos bem organizados para a colega que me vai substituir e fiquei a pensar no dinheiro que gastei: dossiers, separadores, resmas de papel, tinteiros e que obviamente nunca me foi pago. Gastei porque quis, para ter as coisas à minha maneira e organizar as aulas sem estar dependente do plafond das fotocópias (100 alunos não se torna fácil de gerir também a esse nível, porque mesmo que só quisesse 2 cópias por semana por turma no final do mês seriam 800 cópias e isso multiplicado por outros tantos professores não ia ser fácil, mas até isso eu compreendo) e no fim vejo-me a preencher avaliações intercalares de alunos que já não vou ter mais e ainda tenho de preencher avaliações finais para facilitar a vida à colega e para haver documentação do mês de janeiro.

No meio de tudo isto, o que é que se responde quando há um miúdo que vem ter comigo no pátio e me pergunta ‘teacher, quando é que voltas?’ Balbuciei qualquer coisa e virei-lhe as costas com o coração apertado e uma revolta enorme dentro do peito! O valor da dedicação realmente já não é o que era…

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* [há comportamentos muito piores e mais violentos, mas irritava-me solenemente não conseguir dizer mais do que duas frases seguidas sem ter de interromper e mandá-los calar!! Felizmente nunca tive de separar ninguém, porque não se agrediam, nem subiam mesas nem cadeiras, mas atiravam material escolar uns aos outros e passavam as aulas a cochichar!]

3 comentários:

  1. Estou pasma, nem sei o que te diga!
    Que cada vez há mais escolas a tirarem o partido de muitos pais, há. Eu própria, há três anos atrás senti isso na pele com o meu miúdo psicótico (diz que era devido a incompetência minha, ao facto dele não conseguir aprender e de eu fazer-lhe frente. Gente parva!) e tive de "sobreviver" um ano lectivo todo em pé de guerra com o executivo...
    Mas isso!
    Continuo pasma!

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  2. que historia triste! realmente os tempos mudaram bastante... ha tempos visitva o blog da escola onde andei quando era pequena e li uma "peixaria" de comentarios de certos pais que diziam que era inadmissivel que a cantina tivesse no menu, na mesma semana, batatas fritas e que nao podia ser.
    de facto é muito importante ter responsaveis que acreditem em nos e no nosso trabalho e tenham confiança. mas a maioria, face a pressões exteriores, não sabe ter argumentos o que, a meu ver, torna a posição deles questionavel.

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  3. :( lamento muitíssimo! por ti, pelos alunos e pelo futuro... onde vamos parar??

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