segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Semana 18 - Parece que é Natal…

natal = sentimento
I have always thought of Christmas as a good time; a kind, forgiving, generous, pleasant time; a time when men and women seem to open their hearts freely, and so I say, God bless Christmas!  - Charles Dickens
        Sentada à mesa da cozinha a beber um capucino e uma torrada dou por mim a pensar nisto do Natal e percebi que o que gosto mesmo é dos preparativos e da expetativa, porque no fim de contas entre dia 24 e 25 as 48 horas do Natal passam depressa demais. Mesmo assim, há 4 anos que os meus Natais são passados entre famílias, temos dividido bem a conta das horas e conseguimos estar com toda a gente na noite de Natal e no dia 25. Não é preciso muita ginástica para estarmos com aqueles de quem gostamos e que gostam de nós, já que a distância é irrelevante – são poucos quilómetros, mas mesmo que fossem muitos!

        E é bom ver e saber que estão todos bem de saúde e que somos felizes juntos. Sei bem que as nossas famílias têm particularidades que por vezes são difíceis de compreender ou até de aceitar, mas tentamos lidar com isso da melhor forma possível: na minha família liga-se pouco ou nada a presentes, principalmente embrulhados (debaixo da árvore cá de casa este ano não houve um presentinho para contar a história! Bem, a minha irmã deu-me um colar lindo que não consegui deixar de abrir logo na altura. Ups!), mas na família do marido a coisa é levada muito mais a sério e há sempre presentes para toda a gente, mesmo que seja só um miminho. Eu acho piada ao gesto, mas faz-me um bocadinho de confusão porque desde que sou adulta não há o ritual da troca de prendas. A minha mãe dá-me o que eu preciso quando é preciso e não tem de ser no Natal e normalmente são objetos para a casa – este ano foi uma manta para o sofá. Nós fazemos prendas caseiras: doces, bolachas, azeite e sal aromatizados e mistura para panquecas e decoramos com o nosso melhor sorriso, uma fita bonita e já está. Um pouco de nós.

         Nós damos estes miminhos porque já sabemos que vamos receber alguma coisa, mas no meu caso nunca tenho vontade de receber nada – já disse que gosto mais de dar do que de receber? – e só há um presente que me deixa verdadeiramente feliz. Livros! (Claro que não desprezo os presentes que me dão, porque alguns são bastante úteis, mas são isso mesmo, úteis, não felizes!) Sei que todos os anos em que vivi em casa dos meus pais houve sempre este presente em comum e eu e a minha irmã adorávamos.

        Lembro-me perfeitamente de receber alguns livros da Anita – agora estão guardados no sótão à espera que apareça alguma menina na família que demonstre tanto interesse por eles como nós-, livros do Triângulo Jota, Uma Aventura, os Cinco e outros que tais. Mais crescidas, recebíamos dinheiro e quando já tínhamos juntado uma quantia jeitosa íamos à FNAC e nunca vínhamos de lá com menos de 100€ em livros. ‘Romances’, como diz a minha querida avó. E que saudades tenho desses tempos.

       Este ano não recebi livro nenhum…mas parece-me que em janeiro vou aumentar o meu espólio já que tenho uns quantos na minha lista de desejos! São caros, que são, mas eu acho que os livros são sempre um investimento e nunca é dinheiro perdido, por isso é que iniciativas como a Déjà Lu são de louvar.
        Os jornalistas conceituados da nossa praça não servem só para serem opinion makers nem para escreverem livros. Devem também – tarefa até mais importante, segundo o meu ponto de vista – divulgar e promover as boas iniciativas que ainda vão aparecendo com causas nobres, como se pode ver no caso do jornalista Pedro Rolo Duarte que no seu blog discorre sobre o estado de Portugal aos seus olhos, mas também faz referência a boas práticas que se vão fazendo por aí. Umas delas é o blog de leilões de livros que já referi, que aceita ofertas de particulares ou de autores e que depois vende essas obras por um preço simbólico. Eu achei o contexto e o objetivo tão interessantes (o valor integral das obras é entregue à APPT21 – a transferência é feita diretamente para a conta da associação) que não resisti e comprei dois livros do Pedro Rolo Duarte, autografados pelo próprio e tudo, pela módica quantia de 12! A partir daqui faço muitas questões de continuar a contribuir para esta causa. E se vou poder continuar a reforçar o meu stock de livros, tanto melhor!

         Vou continuar a fazer isso ao longo do ano, porque há sempre livros novos que quero ler, ou antigos que nunca li, mas principalmente porque ser solidário não pode ser só no Natal. Sei que as pessoas têm mais tendência para a solidariedade nesta época, porque se sentem mais generosas, mais felizes e com mais esperança como já dizia o senhor Charles Dickens, mas isso não é desculpa para não o serem também ao longo do ano. A nossa ajuda faz sempre falta, seja Natal, Carnaval, Páscoa, verão ou inverno e não é só para as associações. Muitas vezes os nossos amigos ou a nossa família precisam de nós. De nós, do nosso tempo, da nossa disponibilidade e não de presentes. Ou como cantam os Deolinda:

Diz-me lá porque que
tu te lembras de mim
quando chega o natal
porque é que só nesta
quadra é que tu reparas
se eu estou bem ou mal
diz-me lá onde é que paras
o resto do ano
eu preciso mais de ti
do que te vais lembrando
Diz-me lá porque é que tu
não me envias postais
durante o ano inteiro
Diz-me lá porque razão
é que não me dás prendas
sem ter um pretexto
diz-me lá o que te move
uma vez por ano
eu preciso mais de ti do
que te vais lembrando
diz-me lá que gratidão
é que esperas de mim
apenas por um dia
eu que espero um ano
inteiro e que tanto anseio
a tua companhia
hoje reformulo os votos
e o meu desejo
eu preciso mais de ti
do que te vais lembrando
Um feliz natal
não hoje mas um ano inteiro

Deolinda - Quando chega o Natal

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Semana 17 – Carta de motivação

work by steve jobs
via
Cara chefe,
Eu sei que não tenho dedicado muito tempo a pensar nas razões que me levam a trabalhar nestes moldes, e se o fizesse só me perguntaria para quê? Tenho a certeza absoluta de que isto foi sempre o que quis fazer. Percebo perfeitamente o sr. Jobs quando afirma que só se fazendo o que se gosta é que se viverá satisfeito.

Bem, a minha felicidade passa em grande parte por saber que as minhas competências se encaixam entre o ser social e o ser responsável e trabalhador que se empenha o máximo em todas as tarefas. Podia ser a pessoa mais organizada e metódica do mundo (que não sou) e depois não ter a sensibilidade suficiente para lidar com alunos de anos tão diferentes entre si como o 1º ou o 12º, já para não falar na formação.

Gosto deste equilíbrio entre a técnica e os conhecimentos e o desenvolvimento da vertente da comunicação que este trabalho permite. Gosto particularmente de conseguir aplicar na minha vida a máxima perfeita de Confúcio: ‘Choose a job you love, and you’ll never have to work a day in your life’, porque muitas vezes sinto que não devia receber por estar a fazer algo que gosto tanto.

E não deixa de ser verdade que há dias difíceis neste trabalho que escolhi, mas é bom ter a certeza que todos os dias faço o meu melhor para conseguir responder a todas as solicitações dos alunos. Gosto de chegar a casa cansada, mas com a sensação que não havia mais nada que pudesse fazer para que tudo corresse bem. Muitas vezes acontece ter de pensar rápido para conseguir resolver as situações, mas isso faz parte do pacote com que saímos da faculdade. Ou então não, porque me sinto a melhorar todos os dias e não houve ninguém a ensinar-me a pensar rápido na faculdade.

Pensar rápido implica muita coisa, desde ralhetes até improvisar situações novas de aprendizagem, passando por resolver a falta de fotocópias, imaginar flashcards, ter presença de espírito em todas as situações dentro e fora da sala para não haver atitudes demasiado extremas com os alunos e para se manter uma boa relação com os colegas. Pensar rápido também quer dizer não deprimir quando se recebe o ordenado e se percebe que uma parte do que estamos a receber não é nossa.

Não, claro que não nos foi pago dinheiro a mais. É só aquela percentagem que temos de pagar ao estado em descontos, nada de surpreendente, portanto. Felizmente, e por vários motivos, ainda não comecei a pagar isso, mas quando começar espero não me vir a arrepender de ter este regime de trabalho.

Este regime de trabalho tem as vantagens de me permitir ser independente e gerir o próprio tempo. E se na parte de gerir o meu tempo não há problema nenhum, porque todas as atividades que estou a desempenhar estão bem encaixadas no meu horário, o facto de ser independente também é uma mais-valia porque não estou dependente de nenhuma empresa. Posso trabalhar em vários sítios a fazer várias coisas, o que só vai beneficiar o meu currículo. E consigo ter algum tempo para almoçar com a minha família ou às vezes com as amigas. Não há muito tempo livre, mas o que há é bem aproveitado.

Então à primeira vez parece-me que não há nenhuma desvantagem. Ganho mais do que ganharia a trabalhar só numa empresa, tenho um horário de trabalho flexível, não tenho um trabalho monótono nem rotineiro, conheço muitas pessoas e vários métodos de trabalho. Até aqui tudo ótimo. As desvantagens só aparecem no fim. Do mês e dos trimestres.

No fim do mês porque há um sem-fim de recibos para preencher para as várias entidades com que trabalho, o que significa se não tiver trabalhado é claro que não recebo. Não há subsídio de doença que me valha se tiver de ficar em casa por motivo de doença por um período inferior a 30 dias. Se pensar em ter um filho, neste momento já receberia subsídio, nem sei bem em que moldes, mas como também não está previsto não é problemático. E também há o pagamento à Segurança Social que me permitirá receber estes subsídios, caso seja necessário.

No final dos trimestres também há o pagamento do IVA e a retenção na fonte, que representam uma fatia generosa do que recebemos. Percebo que se ganhe mais como trabalhador independente porque as despesas são inúmeras e a organização tem de ser muito maior. Temos de ter um registo apertado para sabermos sempre em que ponto está a situação fiscal para não haver surpresas. Já não basta cada aula ser sempre diferente, apesar de planeada, quanto mais ainda haver surpresas desagradáveis relacionadas com dinheiro.

Obviamente que mesmo tudo somado, adoro o que faço. Sou professora, claro! E não saberia ser outra coisa!

sábado, 8 de outubro de 2011

Semana 16 - Ser português não é fácil, não!

blessed - disappointed
via
Há dias em que não tenho paciência nenhuma para conversa de circunstância e em que só me apetece responder torto. Tenho-me aborrecido um bocado com as perguntas insistentes de alguns dos meus conhecidos: 'Então, mas não estavas na Alemanha? E vais voltar? Quando?' E meterem-se na vossa vida, não?

Eu gosto de falar sobre a minha experiência no estrangeiro (como os meus avós dizem, porque lhes parece a uma distância impensável), mas cada vez que falo nisso fico tristíssima porque muitas vezes me apetecia muito mais lá estar, mesmo sozinha, do que estar aqui em Portugal e voltar a viver esta vidinha muitas vezes chata. Eu estou feliz por estar de volta à vida que conheço bem e às pessoas que amo, mas abrir o jornal e aperceber-me de tanta coisa que se passa por cá e que contribui para a taxa de depressão ser a 2ª maior da Europa também me deprime. Estar sozinha durante vários meses tornou-me mais imune a muitas coisas, mas a diminuição de qualidade de vida é coisa para me mexer com os nervos.

Problemas e desigualdades sociais a aumentar, qualidade de vida a diminuir assim como os ordenados e os subsídios a quem precisa. Cortes na educação e na saúde que servem os propósitos somente económicos de quem andou a esbanjar o que tinha e o que não tinha e que agora se vê a braços com os memorandos da troika para prevenir que Portugal não chegue ao estado da Grécia. No meio de tudo isto quem paga é sempre o contribuinte, que é como quem diz, cada um de nós, que vivendo de acordo com as suas possibilidades, vai ter de ver a sua qualidade de vida diminuir à medida que os impostos aumentam e o salário vai sendo cada vez menor para fazer face às despesas do governo. Esta crise que estamos a atravessar torna cada vez mais real aquela frase ‘sobra mês para o ordenado’.

Eu sei que sou muito básica nesta análise, mas preocupa-me o estado da nação enquanto contribuinte e enquanto profissional. Sou professora a recibos verdes, a trabalhar em vários sítios ao mesmo tempo porque aquela oportunidade que estava mesmo ao virar da esquina desapareceu por falta de verba. Acho muito triste que por falta de dinheiro (e sendo a má gestão também um fator possível) os alunos deixem de ter aulas. Neste caso esta situação já não será nova, mas como me afetou diretamente a mim e aos meus planos, sinto-me bastante indignada com a facilidade com que se decidem as coisas tendo em conta critérios economicistas.

Bem, se pensarmos nas condições de trabalho dos professores que lecionam no nosso sistema de ensino e no ciclo que todos os anos se repete para milhares que voltam às listas de colocação e ficam desesperados à espera de uma vaga, nem é motivo para estranhar que o concurso de recrutamento para o estrangeiro tenha sido cancelado. Costuma dizer-se ‘longe da vista, longe do coração’, o que neste contexto só me leva a questionar-me se os alunos que vivem fora de Portugal, mas que são descendentes de portugueses, serão menos importantes nesta hierarquia do ensino. Achando eu que não deveria ser assim, porque se pensarmos também em motivos económicos, ainda há muito dinheiro a entrar em Portugal vindo das nossas comunidades portuguesas que estão a construir as suas vidas e as suas famílias lá fora, já que não encontraram condições em Portugal para se estabelecerem.

Tenho em crer que se esta visão economicista continua, qualquer dia deixamos de ter portugueses lá fora. Se as pessoas na maioria das vezes já se identificam mais com os países de acolhimento, não me parece assim tão absurdo sentirem-se cada vez menos portuguesas e cada vez mais alemãs/ francesas/ venezuelanas/ canadianas ou outra coisa qualquer. Nos meses que estive fora, não me pareceu que houvesse uma adoração cega por Portugal e até se percebe porquê. Infelizmente os filhos das segundas e terceiras gerações começam a não conhecer o país de onde são provenientes as famílias, então aprender português porquê?

Para quem dá aulas e se preocupa com estas coisas, dá que pensar.

sábado, 17 de setembro de 2011

Semana 15 – Do hoje e do agora. Podiam ser aborrecidos, mas…

i don't know where i'm going, but won't be boringlife is a sequence os moments called now
Since life and experience is a matter of trial-and-error, there’s no need to take choosing – or life itself – too seriously.
Soren Lauritzen

Tentanto e errando, muitas vezes, fazendo muitos erros e aprendendo com eles, ou até continuando a bater com a cabeça na parede até realmente aprender alguma coisa de útil com isso. Costuma ser assim que vou percebendo como é que as coisas se fazem.

Houve uma altura da minha vida em que o que eu queria mais era ter alguém, tipo um guia ou um 'mestre' que me indicasse que caminho escolher e que decisões tomar. Como é óbvio, essa pessoa nunca apareceu e tive de começar a trilhar o meu caminho sozinha, muitas vezes com a ajuda de pessoas que foram aparecendo na minha vida e que me foram dando bons conselhos e agora sei que não seria a pessoa que sou hoje se tivesse tido um tutor a decidir por mim!
Quando chegamos a adultos tomamos consciência de muitas coisas que nos permitem crescer como pessoas, mas que, por mais que queiramos, são intransmissíveis e só com a experiência é que toda a gente lá chega, por isso se os meus pais me tivessem dito o que é ser adulto, tenho a certeza de que não iria usufruir em pleno de todas as experiências e conhecimentos que ganhei.~

Ganho em coisas feitas, sítios visitados, experiências vividas, pessoas conhecidas, dias cheios e uma vida preenchida. Uns anos depois de achar que precisava de ser guiada, tenho a certeza que tenho levado a minha vida da maneira que melhor se adapta a mim. Todas as pessoas que tenho conhecido apareceram na altura certa. E por mais que às vezes pense que tudo corre mal e que há dias em que não me apetece fazer nada, nem ver ninguém, tenho tido sempre vontade de me levantar da cama e quebrar esse ciclo de pensamentos negativos. Olho para trás e vejo que a minha vida tem sido boa. Rica em pessoas e momentos. Bem, muitas vezes as pessoas e os momentos deixam-me sem espaço para pensar. Mas ajudam-me a não errar, ou pelo menos a levantar-me quando caio e também não me deixam levar-me demasiado a sério.

Acho que escrevo mais quando tenho tempo para pensar no que vai acontecendo na minha vida. Desde que regressei da Alemanha tenho andado numa lufa-lufa entre amigos, família, marido, a casa e as gatas e por causa disso tem havido alturas em tenho saído muito e outras em que me parece que não saio de casa. No meio de tanta coisa, o tempo para pensar não tem sido muito, logo o tempo para escrever também não, e coisas com muito sentido ainda menos. Por um lado ainda bem, porque significa que vou vivendo mais e planeando menos. Por outro, não racionalizo e acabo por perder raciocínios e por não organizar as ideias e os planos. Não se pode ter tudo.

Por estes dias, ando a sentir-me com falta de adrenalina. Quero e preciso de sentir que o meu ‘agora’ faz parte de um plano que tracei para a minha vida, coisa que não tem acontecido muito, porque tenho aproveitado o correr dos dias, em vez de traçar grandes planos. Por isto mesmo ando a precisar de receber uma boa notícia que faça o meu mundo começar a girar outra vez a altas rotações. Gosto de ter tempo para estar com as pessoas de quem gosto muito e para fazer coisas que me dão prazer sem horários, mas sinto que o meu tempo livre se está a tornar demasiado. A falta de atividade cansa-me e não é decididamente o que quero para mim. Quero energia, alegria, movimento. Tudo menos aborrecimento!

terça-feira, 26 de julho de 2011

Semana 14 – Os dias da família deviam ser todos os dias!

grandparentsi'm missing my grandparents
Estivesse eu ainda por terras alemãs e a segunda frase podia ser o tema do telefonema para os avós para lhes desejar um dia feliz. Ainda para mais hoje, que é Dia dos Avós. Lembro-me tantas, tantas vezes deles seja porque os visito pouco e devia passar lá mais tempo, seja pelas ausências ‘forçadas’ noutro país, seja porque às vezes me passam pela cabeças coisas que se passaram há vários anos.

Eu adoro os meus avós. Acho que são pessoas espetaculares, que já passaram por muito, mas que continuam sempre com um sorriso quando os netos aparecem para dar um olá e um beijinho. Desde que casei admito que o tempo que passo com eles diminuiu drasticamente e vejo a sombra das saudades nos olhos deles quando apareço.

A minha avó materna vive em casa dos pais desde que o meu avô morreu, há coisa de 15 anos, se não me engano, e em todos os anos em que vivi 24/7 com a minha avó criaram-se hábitos ótimos. Sei que a minha avó gostava e eu, então, adorava tomar o pequeno almoço com ela quando tinha tempo. E mesmo depois de casada quando é possível passo por lá para me sentar com ela à mesa a comer uma fatia de pão com queijo e um caneca de leite com Mokambo. É um cheirinho maravilhoso da minha infância - a repetir em breve. Também me lembro perfeitamente quando a minha avó se mudou para lá e ainda não havia um quarto só para ela. Eu e a minha irmã andávamos ao despique para ver quem é que dava a cama à avó para a avó não dormir na sala. Bem, não era assim uma razão muito altruísta, porque quem dormisse na sala podia ouvir música, estando o sofá-cama ao lado da aparelhagem, mas assim a avó também ficava mais confortável e podia conversar com a neta que estivesse lá no quarto.

Quando a minha irmã foi estudar para o Algarve, passei horas com a minha avó a ver as novelas, que ela me explicava desde o princípio com tanto gosto, que eu comecei a conhecer as personagens todas e não me envergonho nada disso. Diz-se que o tempo com a família deve ser de qualidade, certo? Nos intervalos íamos falando das nossas vidas, dos namorados, das amigas, das coisas da vida, da vida da mana lá pelos algarves, ‘então, a tua irmã vem este fim de semana a casa?’.Foi a minha avó a ajudante oficial das mudanças para a casa nova e é a pessoa que lá vai mais vezes. ‘Ó vó, anda lá, o R. vai trabalhar e nós duas podemos ir passear, vês as novelas na mesma e vais arejar! Sim, podes levar o Nino.’ Estes eram os meus argumentos quando a queria convencer a ir lá dormir a casa. Com as gatas a coisa ficou mais difícil, ela vai mas fica a pensar no cãozinho que deixa nos meus pais.
Com os meus avós paternos a coisa já é um bocadinho diferente. Gosto muito deles na mesma, mas há assim uma ‘embirraçãozinha’ mútua entre a minha mãe e a minha avó. Coisas de nora e de sogra (no meu caso não é nada assim…) que eu e a minha irmã fomos percebendo ao longo do tempo e que não veio beneficiar em nada a nossa adoração pela nossa avó. E quando eram os meus primos que faziam asneiras e eu pagava as favas também não era bonito. Hei de ser sempre a culpada de ter partido a televisão dos meus avós sendo que não tenho culpa nenhuma no assunto. Bem, mas também era fresca e ficou em cacos a mesa de vidro que estava no meio da sala e pela qual a minha avó tinha tanta estima. De todas essas vezes lá veio a minha mãe toda enervada e catrapaz, uma estalada para aprenderes…

Com os anos, comecei a perceber melhor os meus avós e aquilo que achava que era embirração não é mais do que uma estranha maneira de gostar. A minha avó é orgulhosa demais para admitir que a minha mãe é a melhor nora que podia ter e por isso andam as duas sempre às cabeçadas. A minha mãe também não dá o braço a torcer, mas derrete-se-lhe o coração quando o meu avô fala com ela e lhe transmite o orgulho que tem nela e na família que ela e o meu pai construíram.

Não somos uma família disfuncional. Damo-nos lindamente (felizmente muito melhor desde que eu e a mana casámos) e contamos uns com os outros para tudo. Segredos não há e quando há problemas todos sabem. Os meus avós têm opinião para tudo e o meu avô ainda faz valer a sua posição de patriarca apesar dos já muito vividos 80 anos. Sou orgulhosa de muita coisa e os meus avós são uma delas. E só espero ser capaz de construir uma família tão bonita como a nossa. 

E por isso faz-me tanta confusão ler isto. Os meus avós têm tido uma vida dura, mas deram tudo pelos filhos, e tenho a certeza que os idosos que são maltratados também. Filhos e netos ingratos que devem pensar que nunca irão ser velhos. Mas toca a todos e infelizmente sempre se disse '
Espera de teus filhos o que a teus pais fizeres'.

imagens: weheartit.com

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Semana 13 - Ser anónimo…

the city is full of ghostsannonymous in the city
Se estiver sozinha tanto faz ser nesta cidade, na vila onde moro em Portugal, ou num hostel em Berlim. Sou só mais uma anónima no meio dos 7 mil milhões de pessoas que habitam este planeta. Por isso não será assim muito absurdo se eu disser que até gosto disso, pois não?

Cada um de nós é uma gota num oceano imenso de pessoas, mas cada um tem também a sua própria direção, seguindo muitas vezes a corrente arrastada pelo fluxo dos que o rodeiam -  a sua família, os conhecidos, os amigos e outras tantas pessoas que vão aparecendo – só porque normalmente é mais fácil, mais lógico, com menos obstáculos. Mas se cada um fizer valer as suas ideias sem ter em conta nada que possa aprender com os outros, continuará tão só como se estivesse sozinho no mundo.

Estar sozinho não é ser anónimo. Ser anónimo é simplesmente não ser reconhecido por ninguém. É estar só com os os seus pensamentos captando a essência dos locais, sentir a ‘alma’ dos que habitam ou habitaram aquelas ruas, que viveram aquele ambiente, que deixaram uma parte de si por lá, ou que construíram o seu espírito com partes da cidade. Já me senti assim muitas vezes, como se estivesse a absorver a vida de outras pessoas, de outros tempos, outras eras. Sinto que estar sozinha até é uma benesse, porque não me distraio tanto.

Gosto de ser anónima, de passar despercebida, de ser eu no meio de outros. No entanto, esse anonimato acaba por quebrar-se estando algum tempo no mesmo lugar e aí a vida começa a rolar. Quando os desconhecidos começam a tornar-se conhecidos vamos começando a nossa história e deixamos de ser anónimos. Passamos a seguir o nosso caminho menos sozinhos, com gente que gosta de nós e nos vai acompanhando em pedaços do nosso caminho. Os conhecidos passam a ser amigos e vão integrando o o leque de pessoas que também nos transformam e nos criam como pessoas.

E eu sei que gosto muito de pessoas, das suas histórias, de conhecer as suas vidas, os seus fracassos, sucessos, emoções, o que as move e o que é importante para as fazer acordar todos os dias de manhã. Se possível gosto de saber isso ao vivo, ouvir os sons das palavras a serem ditas, e as emoções a aparecerem ao canto da boca e na curvatura das pestanas. Gosto das entoações, das pausas, dos silêncios que dizem tudo e dos olhares embargados ou eufóricos que mesmo sem palavras, falam ao coração. Mesmo que as conversas não sejam comigo.

Quando ando por aí sozinha, se é verdade que normalmente ando metida com os meus pensamentos e de música na cabeça, também gosto quando tiro os phones dos ouvidos. Sabe-me melhor sentir os ruídos da cidade e já tenho ouvido um ‘Hallo’ ocasional de pessoas que me vão reconhecendo. Vou deixando de ser anónima por aqui. Isto aconteceu em 4 meses e só tenho pena que na minha urbanização em Portugal já lá more há quase 3 anos e não haja uma alminha que me diga ‘Olá’ na rua.

Continuo a ser anónima, mas lá já não acho muito coerente. No fim de contas é o meu país e não devia ser só mais uma. E eu não quero viver num sítio em que diga que só lá vou dormir. É a pior maneira de se ser anónimo. É que para além de não se ser reconhecido é nem sequer conseguir reconhecer o sítio onde se vive.

imagens: pinterest.com

domingo, 10 de julho de 2011

Semana 12: Diz-se que a carne é fraca e é verdade…

beauty
Beauty is more than flesh

Acho que os espelhos hoje estão contra mim! É verdade que não tenho ido ao ginásio e nem sei bem porquê – quer dizer, saber até sei, a falta de vontade e de motivação têm sido soberanas e as desculpas esfarrapadas sucedem-se umas às outras – e hoje, como resultado disso, fiquei com sentimentos ambíguos.

Gostei muito de fazer a aula, como sempre (só me acho estúpida por não ir mais vezes ao ginásio, sabendo eu que vou gostar tanto depois de lá estar!!), e suei muitas calorias, mas houve alturas em que olhava para o espelho só para me ver descoordenada e cabisbaixa. O espelho do ginásio teimou em me mostrar uma pessoa que não reconheci. Fiquei com vontade de chorar, porque sei que a culpa é minha.

Tenho sempre a melhor das intenções, mas falho demasiadas vezes na concretização. E estar sozinha também não ajuda. Como o que calha, quando calha. E sei perfeitamente que podia fazer mais por isso, ainda para mais tendo tempo livre. Sei o que comer – verduras, frutas, peixe, carne e laticínios com moderação-, como cozinhar – cozidos, estufados e assados no forno- e quando comer – de 2/2 ou de 3/3 horas no máximo, mas pôr tudo isto em prática é que fica tão difícil…

Também sei muito bem que apesar de lá em casa eu e o maridão não comermos sempre comida saudável, havia refeições a horas relativamente certas e o frigorífico tinha sempre fruta e legumes frescos. Comíamos carne ou peixe regularmente, tentado sempre variar. Aqui nunca me apetece cozinhar e vou comendo vezes demais comida meio rápida, quer dizer, quando cozinho em casa anda sempre tudo dentro do género massa/arroz com mais qualquer coisa, ou então salada do que houver no frigorífico. Resumindo, quase sempre um concentrado de coisas pouco ou nada saudáveis.

Embora também saiba que o meu maior problema nem é tanto às refeições . Também é, mas passa principalmente pela dificuldade que tenho em gerir os intervalos entre as refeições. Desde sempre, em todas as pseudo-dietas  que fiz (já li em qualquer lado e subscrevo que 'fazer dieta é fácil....eu já comecei tantas vezes'), que me queixo sempre do mesmo, e ainda assim é o que continua a ser mais difícil. Em Portugal passava horas sem comer, o que não é nada bom para o metabolismo.

Aqui, o meu metabolismo ressente-se com o açúcar. O meu maior pecado por terras alemã é gostar demasiado de me sentar em qualquer lado a beber um cappuccino ou um chocolate quente, que vêm normalmente acompanhados de um qualquer bolo saído diretamente de uma das pastelarias alemãs. (E detesto gostar tanto dos bolos daqui!!) 

Também acontece muito vir das aulas e comer qualquer coisa no comboio, normalmente alguma daquelas coisas que já falei acima, cheias de açúcar que me fazem tanto mal, mas que me acalmam os nervos depois das aulas! Teoria da compensação a funcionar em pleno! Quando chego a casa com fome e lancho, acabo por jantar tarde e a más horas, até mesmo para os padrões portugueses. 10 da noite costuma ser a hora normal, o que em termos alimentares é um crime, se bem que só me deite lá para a 1 ou 2 da manhã.

Como hoje fiquei um bocadinho neurótica com a história da aparência, achei que podia ser relaxante ir espreitar as montras. Almocei uma salada e uma pêra, apanhei o comboio e lá fui eu a Bielefeld, que tem uma rua enorme de lojas e lojinhas. Umas conhecidas, outras nem tanto. Tenho agora a certeza que foi uma péssima ideia. Não encontrei quase nada de que gostasse e experimentei umas calças que não me serviram. Se já estava aborrecida, fiquei chateada.

Eu sei que não gosto menos da pessoa que sou por ter uns quilos a mais. Não me sinto mais burra ou menos competente, interessante ou feminina por isso. Não deixo que isso afete a minha vida, nem a alegria com vivo todos os dias, mas há dias em que me culpo por isso – e iria culpar quem?

A desculpa mais frequente é que engordo só com o ar. Pois, lembrando-me eu das bases de química, o ar é um composto de oxigénio com dióxido de carbono, sendo que nenhum deles engorda.
Bem, para prevenir o melhor é mesmo fechar a boca!

terça-feira, 5 de julho de 2011

Semana 11 – Here or there isn’t it the same?

distance in a relationship
via
O dia está lindo e quando acordo assim, com os meus olhos a despertarem para um sol brilhante, apetece-me sempre pegar no telemóvel e ligar a alguma das 'minhas' pessoas, só para dizer: ‘Olá, bom dia. O dia está lindo e é maravilhoso ter-te na minha vida!’ Sounds lame, não é? Pois, eu sei que sim, mas estar a viver à distância deixa-me mais sensível que o costume, embora tente que isso não perturbe demasiado a minha vida.

Há dias em Berlim percebi que devo ser um caso estranho por não ligar para casa todos os dias. Apesar de gostar muito de estar em contato com os que amo não consigo ligar todos os dias, nem quero me liguem. Acabo por achar que muitas vezes só fazemos conversa de circunstância, embora noutras alturas me pareça que sei mais da vida de quem está do outro lado do telefone em 10 minutos de conversa do que quando nos encontramos ao vivo e a cores. A conversa fica mais concentrada e passamos do ‘olá, tudo bem?’ para assuntos realmente importantes, notícias espetaculares ou tristes (obviamente soube via telefone que a minha mana está grávida e que o meu primo se vai casar no próximo ano. Em 2005 também soube a notícia da morte de um familiar e um divórcio) e muitos planos para o futuro.

Acho sinceramente que ligar todos os dias seria um desperdício de dinheiro (malvado roaming…em 2005, a 1ª fatura de telemóvel foi de 600€!!!! acabou-se logo a vontade de falar todos os dias. 1 vez por semana começou a ser mais normal!) e para além disso, se com os meus pais já não falava todos os dias em Portugal (em 2005 ainda vivia lá em casa, por isso a maior preocupação era compreensível), agora que estou longe não vejo qual é a necessidade de mudar isso. Com o marido é que é mais estranho, porque durante 2 anos e meio de casamento (até ao dia 15 de março deste ano)  para além de nos vermos todos os dias, mesmo que muitas vezes fosse só à hora de ir dormir, trocávamos várias mensagens por dia. Tem lógica, uma vida em conjunto pressupõe uma rotina em que ambos temos uma parte essencial. Comigo aqui esse laço quebrou-se.

Claro que ‘falamos’ todos os dias, ou quase, mais que não seja uma mensagem escrita em que dê para eu ir sabendo dos planos que ele vai fazendo sozinho em casa ou com os amigos, assim como vou sempre contando sobre a minha vida aqui. Ficou mais engraçado desde que me veio visitar, porque assim já conhece os sítios de que falo.

E embora falemos com alguma regularidade, é muito mais natural que eu escreva no blogue (ali ao lado como já sabem). É mais fácil para mim, não estou limitada em termos de tempo, porque quando o marido está a trabalhar não podemos falar, obviously, e ainda para mais, permite mais carateres. E nestas coisas das relações à distância, e aqui não falo só de relações amorosas, o Facebook e o Skype também são ferramentas ótimas e sempre não se gasta tanto dinheiro.

Eu não preciso de ouvir a voz dos que amo para saber que estão bem. Se eles estão bem, eu também estou, estando no mesmo país, ou a não sei quantos quilómetros de distância. 
Se bem que às vezes um abraço fosse muito bem vindo!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Semana 10 – Vamos?


As viagens levam-nos onde o coração deixa. O sítio a que chamamos casa pode ser ao virar da esquina ou do outro lado do mundo. De pouco importa quando aquilo que nos define lá está.
Gosto de sair de casa. Stop. Gosto de ficar em hotéis. Stop. Gosto de ir. Stop. Gosto de viajar. Stop. Mas gosto muito de chegar. Stop. A qualquer lado. Stop.

Se isto fosse um telegrama seria o que eu diria. Resumindo, gosto acima de tudo de ir, daquela sensação boa que é ter um objetivo, um destino marcado e saber logo na casa da partida que vai ser divertido.

Viajar é em primeiro lugar os arrepios no estômago quando a viagem está a ser planeada. Aqueles tempos em que ainda reina a indecisão. Vou ou não vou? Vamos ou não vamos? E quando a decisão é sim, os arrepios passam a entusiasmo. E é o entusiasmo que me move quando começo a pensar naquelas coisas importantes para além do destino que já está decidido. Onde é que ficamos? E quantos dias? O que vou visitar? Será que o tempo vai estar bom?

Com todos os pormenores relativamente bem pensados e já ponderados e discutidos, o tempo começa a ser cada vez mais curto, até que chega o dia. Mala no carro ou às costas, conforme o tipo de viagem e agora vamos lá.

Primeiro a viagem – as últimas têm sido longas e cansativas - e  só depois a chegada. Só o alívio da chegada ao hotel – ou ao hostel, no caso desta – é comparável em grandeza ao desejo de ir. Na última ida, 8 horas de autocarro numa viagem chatinha e demorada, mas que podia ter sido pior. Não enjoei, o que, tendo em conta o histórico, já não foi nada mau.

Na chegada ao destino, mesmo que esteja de rastos, fico felicíssima, porque já sei que vou enriquecer um bocadinho mais a minha bagagem cultural, nem que esta viagem seja já uma 2ª visita. Há sempre sítios novos a visitar ou podemos visitar os mesmos, mas iremos com certeza experienciar novas sensações e sentimentos. E é tão bom matar saudades.

E quando acordo pela primeira vez numa cama diferente da do costume, num sítio novo já tenho pensado: ’Caramba, tenho tanta sorte!’ E sei que tenho sorte por poder estar a fazer uma das minhas atividades preferidas, que é sair da minha concha e misturar-me com as pessoas. Ser mais uma a poder dizer: Estive aqui. Fiz parte da vida deste sítio. Saboreei o que é viver aqui. E agora quero mais…

Não um querer egocêntrico, mas aquela vontade de coração aberto, de querer crescer, viver sempre mais, conhecer mais, pertencer a algum sítio, mesmo que esse sítio esteja em vários lugares. E mesmo que o coração comece a ficar muito repartido, em vez de abrir fendas, vai ficando cada vez maior.

E pertencer a algum sítio é pôr-se os pés fora da cama e desejar que o dia corra bem, mesmo que chova, mesmo que esteja um calor abrasador, mesmo que se ande no metro sem pagar bilhete, mesmo que por pouco não se tenha de dormir fora do quarto, mesmo que doam os pés. As coisas menos boas são sempre as que dão as melhores histórias.

Ser viajante é isso. É poder ir onde se quer, ver e conhecer o que é importante, ou então onde os nossos pés nos levam, tirar as fotos da praxe, ou de outros ângulos diferentes ou absurdos.  É perder-se nas distâncias e andar quilómetros a pé só porque não apetece apanhar o próximo transporte. É apanhar 2 molhas no mesmo dia. Estar lá e viver a vida noutro sítio. Deixar a rotina em casa e voltar a não ter horas com prazos de validade.

É simples. É querer e ir. Stop

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Semana 9 - Abster-se não significa que irá melhorar!

vote via

 Abstenção atinge valor recorde na história das legislativas no Público

Não era nada que já não se esperasse, mas ainda assim fiquei surpreendida pela negativa. O valor mais elevado de sempre?! Estando o país em crise profunda a vários níveis, com a troika BCE/Comissão Europeia/ FMI a governar resolver os problemas do país nos próximos anos e depois de tantas manifestações, protestos, críticas e descontentamento, acho que não se justifica isto!!

Eu não votei por razões logísticas. Cheguei cá à Alemanha em meados de Março e com tantas coisas para resolver nem me lembrei disso. Quando comecei a pensar que para votar me deveria recensear aqui, já não podia porque isso deveria ter sido feito até ao dia 6 de Abril. Desde que tenho cartão de eleitora só não votei uma vez e também porque estava aqui na Alemanha na altura.

Se estivesse em Portugal claro que teria ido votar, as usual na escola primária ao lado da minha casa e teria sido menos uma a contribuir para a abstenção. Que para não variar foi a vencedora destas eleições. Apesar de se saber que não há nunca nenhum candidato ideal - e no panorama atual ainda se torna mais difícil que isso aconteça - é sempre mais fácil assobiar para o lado e fingir que não é nada connosco, do que se tomar uma atitude. Mais que não seja para depois se poder reclamar com razão. Eu acho uma falta de respeito e de responsabilidade cívica para com o país (que no fim de contas é composto por todos nós) as pessoas só reclamarem e não fazerem nada para mudar isso. Tenho consciência que muito provavelmente o PSD iria ter mais votos, mas os partidos menos representativos também, o que ajudaria a equilibrar mais as contas.

Pelo menos há unanimidade numa coisa: a demissão do ex-primeiro-ministro da liderança do PS. Admito que noutras eleições votei nele, esperando que fizesse alguma coisa pelo país, visto que seria um rosto menos conhecido e menos permeável aos ‘amiguismos’. Afinal a personalidade e postura arrogantes, nunca admitindo erros e metendo os pés pelas mãos em várias circunstâncias não beneficiaram o país. Com certeza que houve coisas que devem ter sido bem feitas, mas muitas vezes as polémicas abafaram tudo isso.

Fico contente por saber que saiu do poder, mas como diz a Cocó também estou céptica quanto a este primeiro-ministro. No início da campanha parecia uma coisa, mas ao longo do tempo também tem dado calinadas e feito alguns erros. Estou expectante para ver como vai conseguir gerir o país nestas condições, e principalmente para ver se não vai cair nos mesmos erros do PS. E preocupa-me haver um primeiro-ministro e um presidente da República da mesma cor política.

Quanto à abstenção, acredito que com esta percentagem de não-votantes se deveria era começar a refletir sobre o ato de votar como obrigação. A meu ver, a solução, que já não é nova, passaria por instituir o voto obrigatório* e com multa caso não fosse cumprido. Se as pessoas não cumprem os seus direitos, pelos menos assim seria uma democracia mais justa, com mais participação política.

* A prática do voto obrigatório remonta à Grécia Antiga, quando o legislador ateniense Sólon fez aprovar uma lei específica obrigando os cidadãos a escolher um dos partidos, caso não quisessem perder seus direitos de cidadãos. by Wikipedia

terça-feira, 31 de maio de 2011

Semana 8 - Crónica de um domingo que se previa triste

girl in bus boho-chic

“There are no foreign lands. It is the traveler only who is foreign.”
Robert Louis Stevenson

O coração não pára quando deixo de ver quem amo do outro lado do vidro. Nem a vida deixa de rolar. Mas a tensão sobe-me ao peito porque ainda há 5 minutos estávamos a falar e agora estou novamente entregue aos meus pensamentos.

E para não me deprimir começo a pensar: ‘e agora como é que eu saio daqui?’ Estou a falar mesmo literalmente, porque isto de andar por sítios que não se conhece tem estes inconvenientes. Mas como já disse algumas vezes nos últimos 15 dias: ‘Eu nunca perdi nenhum autocarro nem nenhum avião por terras alemãs, não vou começar hoje’. E ainda não foi desta.

Pela primeira vez no aeroporto de Hannover, sei que o S-Bahn não está a funcionar e não há placa a anunciar autocarros à vista. (Costuma haver ligação direta estação-aeroporto, mas no domingo estava parada, por isso fomos de táxi para lá.) Portanto, primeira coisa a fazer: ir ao posto de informações saber onde são os autocarros. Relativamente perto e até está um na paragem. Pergunto ao motorista se passa pela estação. ‘Não, mas passa pelo centro da cidade mais próxima e lá pode apanhar o S1 para a estação. Um segundo para decidir. Ok, óptimo. Eu já sei que nem sempre a maneira mais direta é a mais rápida. E isto aplica-se a tudo na vida. Com pequenos desvios também se chega ao destino e muitas vezes conhecem-se pessoas interessantes. Como hoje, por exemplo.

Entro no S, sento-me e à minha frente sentam-se duas raparigas pouco mais velhas que eu a conversar em inglês. Uma, a loira, explicava um mapa à outra, morena, magrita, de óculos e de cabelo comprido com uma mala de porão vermelha. Percebo que o mapa será de Hannover e começo a ler o meu livro. Em português, claro.

Quando me levanto para sair à chegada à estação, a rapariga morena está ao meu lado já sozinha, nem me apercebi que a loira já tinha saído entretanto, esta distração só pode ser por causa do livro, e pergunta-me ‘Mora aqui?’ em bom português. Bem, português com sotaque brasileiro, para não faltar à verdade, o que me faz sorrir surpreendida. Respondo-lhe e falamos um pouco. Fico a saber que a moça era brasileira de São Paulo e que estava em Hannover para uma feira de móveis que estaria a decorrer na cidade. Ainda a convido para um café, mas ainda tinha ‘treinamento’ e já não deu. Fiquei com pena, porque me pareceu que estava a precisar de companhia. Tinha uns olhos tristes.

Então comprei um heiβe Schokolade, phones nos ouvidos e apanho o comboio.  Uma hora e outro tanto de viagem até casa, que me apetecia interminável. Sol na janela, um bom livro, música e lembranças de sorrisos. Estas viagens assim costumam fazer-me bem e esta não foi exceção.
Apesar de ter ido deixar o mais-que-tudo ao aeroporto, mentalizo-me que a vida é muito mais que tristezas. 


(escrito domingo, dia 29 de Maio)

sábado, 21 de maio de 2011

Semana 7 - Breaking the reality

blog
Amigas tenho muito poucas. As da vida real contam-se pelos dedos de uma mão. Agora conhecidos tenho imensos. Daqui, dali e de além. Da infância, da escola, do sítio onde morei quase toda a vida, dos trabalhos e várias ocupações que tenho tido, as amigas do marido e por aí fora. E de há uns anos a esta parte, também entram nesta categoria os conhecidos da blogosfera. E o mais engraçado é que para além de conhecer centenas de pessoas e não haver ninguém de quem eu diga: ‘odeio esta pessoa’, também são poucas aquelas em quem posso confiar cegamente, ou com quem possa contar para as coisas realmente importantes.

Claro que a vida real é uma coisa e a vida virtual outra completamente diferente. E é óbvio que eu sei que não posso contar com ninguém da blogosfera para coisas que impliquem presença física, porque só há uma pessoa que conheço fisicamente e já era minha amiga antes de ambas termos blogs. Mas em termos de relações humanas, acho que a blogosfera consegue ser um mundo mais verdadeiro do que a vida real. (Eu não estou a falar naqueles blogs que se denominam hate blogs nem naqueles blogs de sátira. Cá me parece que quem se dedica a isso não deve ter mais nada que fazer na vida. E deve ter sido taxidermista noutra encarnação, visto que agora se dedique a dissecar a vida dos bloggers. A mim parece-me tudo muito simples: não gosta, não lê, não comenta e não chateia. Ponto final.)

Como na maioria dos casos não conhecemos as pessoas pessoalmente haverá, penso eu, mais tendência para só dizermos de nossa justiça e comentarmos o que tem mesmo a ver connosco. Aqui se nota que não sou adepta do eu-sigo-o-te-blog-e-tu-segues-o-meu. Eu tenho mais de 100 blogs no Google Reader e à exceção de uns muito conhecidos: como o da Pipoca mais Doce ou o da Pólo Norte que já sigo há muito tempo eu que me divertem, como a tantas outras pessoas, mas que raramente comento (apesar de já ter enviado algumas fotos a dizer I love Pólo Norte para o Quadripolaridades); os outros blogs todos posso considerá-los um bocadinho blogs de proximidade.

Mas é o quê? Pois, sinto-me próxima das pessoas porque em determinada altura me identifiquei com a vida de quem escreve, com alguns acontecimentos ou situações que descreve, com as fotos, as músicas ou as frases que vão publicando. Nestes casos vou deixando sempre alguns comentários, quando aquilo que leio reflecte de certa forma a minha vida.

E depois há os outros, aqueles que eu gosto muito, onde sou comentadora assídua, porque me sinto em casa por lá e porque encontro muito de mim nas palavras de outros. Muito provavelmente na vida real não teremos nada em comum, mas o meu instinto não me tem falhado. E acho muito giro quando quem escreve nos blogs que sigo e comento também me comenta. Não sei se identificam com o que escrevo ou se aquilo que escrevo fará algum sentido, mas a verdade é que me sinto acarinhada por haver gente que se dá ao trabalho de ‘me’ ler e comentar o que escrevo, mesmo não me conhecendo pessoalmente.

Essa será uma das razões pelas quais acho que a blogosfera não tem comparação possível com a vida real, porque não conhecendo as pessoas ao vivo, seremos ‘fãs’ daquilo que escreve. Bem, aqui poderia pegar naquilo que tanto se fala, que é o ‘marketing pessoal’. Eu não empolo situações que aconteceram na minha vida nem ando a fazer-me passar por quem não sou, só para alimentar o ego. Quem me conhece pessoalmente encontra no blog um espelho de mim. E muitas vezes tenho receio de me expor demais. Mas ao contrário de mim, tenho a certeza de que haverá por aí muita gente que tenta ser mais do que é só para preencher uma vida vazia. Adiante…

Não será também possível equiparar a blogosfera à vida real, porque na vida real não andamos a meter conversa com as pessoas – eu pelo menos não ando –, enquanto que por aqui podemos comentar os blogs que gostamos e se houver empatia recíproca, acabamos por ter bastante interação com as pessoas, podendo extrapolar da vida virtual para a vida real.

Da minha parte, gosto muito de conhecer a cara e os olhos de quem escreve o que gosto de ler. E não me parece que seja assim uma coisa tão transcendente tornarmo-nos amigos das pessoas no facebook. Eu acho graça a conhecer um bocadinho mais das pessoas através dos estados do facebook. Quem nunca teve um amigo ou amiga no Mirc com quem gostasse de se encontrar pessoalmente? Ou com quem trocasse sms? Pois, é a mesma coisa. A tecnologia é que vai evoluindo…

terça-feira, 10 de maio de 2011

Semana 6 - To teach or not to teach...

teach
O senhor Galileu até pode ter muita razão, mas como é que nós vamos fazer ver à criançada que tem tanta coisa para descobrir por si própria, se os miúdos não conseguem estar 5 minutos calados? Estou em crer que estou a pagar penitência pelos inúmeros ralhetes dos professores durante os 12 anos de escolaridade ‘obrigatória’.

É que uma coisa é haver burburinho na sala, outra coisa bem diferente é não fazerem nada a não ser conversar. Eu sei que sempre fui faladora demais e que muitas vezes tinha de ser chamada a atenção, mas quando era para trabalhar, trabalhava e se era para estar calada também não havia problema. E o que mais me envergonhava era que os professores dissessem o meu nome na aula e a seguir um ‘Calada!’ bem alto. Ficava coradíssima e enquanto me lembrasse disso, não abria a boca! Ao contrário dos alunos de agora, que não se importam nada de ser chamados à atenção e ainda gozam a situação e aproveitam para se rir e conversar mais um bocado. Quando começam assim, só me apetece pregar-lhes um calduço para ver se aprendem a fechar a matraca!

À parte de ainda ser nova nisto de ser professora e ter de preparar aulas e organizar materiais e tal, o que me chateia mais é mesmo o comportamento dos miúdos. Se eu ainda ando a ‘apalpar terreno’ na organização das aulas, os miúdos estarem sempre a falar e com pouca atenção também não ajuda muito. Pois, é que ter de preparar as aulas e os materiais e as fichas e a sequência das actividades já não é nada fácil, tendo em conta que temos de tentar sempre motivar os alunos para que não dispersem a atenção e gostem do que estão a fazer, então fazer isso e gerir as atitudes e os comportamentos deles numa sala em que tenho 3 níveis diferentes é assim uma coisinha gira, gira! Ontem foi a primeira aula em que senti que tínhamos conseguido cumprir os objectivos, embora haja ‘criaturas’ que me continuem a irritar.

Sim, porque seria injusta se dissesse que não há alunos que gosto mais do que outros, mas para ser politicamente correcta nós dizemos que gostamos de todos por igual, embora haja alguns que nos dão ‘pica’, porque querem saber mais e fazer mais e aprender tudo o que há para aprender. - Eu acho que fui uma aluna assim –. E depois há os outros, os que vão às aulas porque são obrigados, mas que preferiam estar noutro sítio qualquer a fazer outra coisa. Os que têm como divertimento preferido nas aulas chatear os professores. Uma vez disse a um miúdo do 10º ano ‘Se não estás aqui a fazer nada e só estás a perturbar a aula, faz o favor de sair!’ e o miúdo saiu mesmo! Depois eu fiquei a sentir-me um bocadinho angustiada, porque tinha de justificar à Directora de Ano aquela falta, mas ela disse que eu fiz muito bem e realmente ele começou a portar-se melhor!

Acho que percebeu que tinha esticado a corda ao máximo e lhe tinha corrido mal. Mas o que fazer quando eu sou a única responsável pela gestão dos conflitos, ou melhor dizendo, sou a responsável para o bem e para o mal, pelas aulas, pela gestão dos horários e das turmas e de tudo o que acontece relativamente aos cursos? Há dias em que me sinto a navegar num barco à vela sem sair do mesmo sítio e sem qualquer ajuda possível. Bem, eu sei que tenho um coordenador, mas passam-se semanas sem falar com ele e já percebi que é suposto as coisas seguirem com normalidade e sem haver muita interação.

Nas escolas portuguesas, apesar de todas as queixas e problemas, quando há algum dúvida ou situação para resolver há sempre alguém a quem recorrer. Aqui resta-me organizar tudo o melhor possível para que não haja dias em que me apeteça pregar uma estalada em algum cachopo. Diz que é anti-pedagógico e que as crianças ficam traumatizadas! Eu até não sou apologista da violência, mas há vezes em que me parece que há 30 anos era melhor, porque os miúdos tinham mais respeito aos professores. Não sei se seria por causa das reguadas ou se a escola realmente teria maior importância na vida das famílias.

O que eu sei é que a minha mãe só fez a primária e foi a melhor aluna do 4º ano e o meu pai (apesar de ter chumbado no 8º ano) conseguiu completar o 11º ano e nenhum ficou traumatizado com reguadas ou castigos e souberam transmitir a importância dos estudos. Está a parecer-me é que tenho de ir saber como é que isso se faz, porque há dias em que me apetece tudo menos dar aulas a miúdos que não têm muita vontade de aprender!

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Semana 5 - Já não é nada como antigamente

shut computer, meet someone
Uma das actividades a que me tenho dedicado mais nos últimos tempos é a surfar na internet. Passo horas online e muitas vezes sinto que em vez de perder horas de vida, ganho nas pessoas que conheço, nas vidas que se vão cruzando com a minha. Isso vale o que vale, porque não se chega a conhecer realmente as pessoas, se todo o contacto é via comentários, posts, emails e estados do facebook. Uma pequena parte de nós que passa para o outro lado do monitor.
Com este tipo de interacção sinto que falamos demais de nós e de menos dos outros. Trocamos ideias sobre tudo e mais alguma coisa com pessoas em quem nunca pusemos a vista em cima e que muito provavelmente nunca se cruzariam no meridiano da nossa vida real. Lemos opiniões díspares sobre milhares de assuntos e vamos deixando as nossas opiniões e comentários também espalhados aqui e ali, o que não é lá muito propício à criação e manutenção de amizades, ainda que virtuais. Há aquelas pessoas que se vão tornando mais constantes na nossa vida virtual, mas ainda assim, não há nada como conhecer as pessoas frente a frente, olhos nos olhos. E não é claramente sentados em frente de um monitor que a coisa vai acontecer.
Isto é o que torna a realidade virtual isso mesmo, virtual. E o verbo sofalizar possível. As novas tecnologias vieram permitir situações impossíveis há alguns anos. O telemóvel mantém-nos sempre em contacto, ainda que muitas vezes seja irritante e inconveniente, a internet facilita-nos as pesquisas sobre qualquer assunto e permite-nos encontrar pessoas há muito desaparecidas das nossas vidas – tenho reservas quanto a isto, por isso tenho 20 pedidos de amizade pendentes –, e encontrar outras tantas fora do nosso círculo de amigos, do nosso país ou até do nosso continente. Acredito muito mais nas potencialidades da internet quanto aos contactos com pessoas com quem nos identificamos, mas que não moram perto de nós, do que nos reatamentos de relações que tiveram o seu lugar no passado e era lá que deviam continuar. Nisto o facebook veio trazer problemas onde eles antes não existiam.
Embora o facebook tenha também uma função mais positiva, que é a de almofada de embate contra a rejeição. Pois, porque se antes as pessoas se conheciam das maneiras ditas ‘normais’: os grupos de amigos ou de colegas da escola, as actividades lúdicas ou desportivas em comum, de há uns anos a esta parte conhecem-se pessoas na internet, primeiro nos chats, depois no hi5 (me-do) e agora no facebook. E sendo mais fácil meter conversa, ‘ai que és tão gira e tal, queres ser minha amiga no facebook, para podermos trocar umas ideias e uns gifts do farmville’, o risco da rejeição não é tão evidente. Se a pessoa não gosta, ignora em vez de ter de fazer aqueles sorrisos amarelos como já todos fizemos: ‘Ahhh, pois sim, tu és muito fofo e tal, mas só me fazes lembrar o Manel Jaquim e credo, que feio que o gajo era. E veio a descobrir-se ainda se tornou modelo’ .
É por estas e por outras que mais dia menos dia, mais coisa menos coisa, gosto de combinar coisas in person com aquelas pessoas que realmente me dizem algo e com quem me identifico. Para tirar as teimas e ver se são mesmo aquilo que escrevem, ou se me identifiquei com um avatar. Também podia ser, mas essa história já é mais que conhecida e prefiro passar ao lado.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Semana 4 - E o que é que fazemos com o tempo?*


Time is the coin of your life. It is the only coin you have, and only you can determine how it will be spent. Be careful lest you let other people spend it for you.
Carl Sandburg (1878 - 1967)
Bem, na equação de 24 horas/3 = 8 horas de sono + 8 horas de trabalho + 8 horas de (suposto) lazer parece haver muito tempo para aproveitar da melhor maneira. Normalmente só parece, porque ao fim e ao cabo nunca ninguém está satisfeito a 100% com o rumo que dá ao seu tempo livre.

Por mim falo. Aqui, que tenho muito tempo livre, não tenho amigos nem família com quem sair e passear. Já tenho conhecido muita gente com quem tem dado para conviver, mas por mais queridos que todos sejam, as minhas pessoas são as minhas pessoas. E por causa disso mesmo acabo por passar muito tempo (às vezes demasiado) à frente do computador - que foi sempre uma das minhas actividades indoors preferidas - a escrever e ler emails, no facebook, a passear pela blogosfera e a dedicar-me aos meus blogues, não só porque adoro escrever aqui, mas também porque é mais uma maneira de partilhar a minha vida com os meus amigos e família (apesar de haver poucas pessoas na vida real que conhecem esta minha vida virtual).

Gosto imenso desta nova rotina que já criei aqui e que agora também inclui o ginásio. Ao início é sempre difícil habituarmo-nos a novas situações, mas já ultrapassei isso. E acho que tenho conseguido aproveitar o tempo da melhor maneira e sinto-me feliz com isso, mas compreendo perfeitamente que também tem a ver com o facto de não trabalhar com horário completo.

A minha querida Anna queixa-se que o tempo não dá para tudo e eu percebo-a perfeitamente. Pensamos sempre que são só 8 horas de trabalho, mas se virmos bem, acabam por ser muito mais, porque desde a hora a que acordamos de manhã até à hora a que chegamos finalmente a casa normalmente passam entre 10 a 12 horas, contando com o tempo até sairmos de casa, as deslocações e a hora de almoço. Obviamente que o tempo depois de chegarmos a casa não é assim tanto até irmos dormir. Ou perdemos horas de sono para fazermos o que gostamos, ou então não o fazemos. Parece muito simples, mas eu, que já estive dos dois lados, achei sempre muito difícil de equilibrar isso.

Para fazermos o que gostamos e perdermos horas de sono, ao fim de uns dias a dormir pouco, o corpo ressente-se. Eu que cheguei a dormir só 4 horas por noite para estar com amigos e na festarola, acordava irritadíssima e passava uns dias muito maus para quem tinha de lidar comigo. Houve outras alturas muito chatas, em que não era mesmo possível sair, e eu tinha de ficar em casa, e obviamente ao fim de uns tempos começava a ressacar as saídas e andar triste e depré por me sentir meio ‘orfã’ de amigos.

Por isso é que digo que nunca estamos contentes. O ideal seria dormirmos o tal sono de beleza (nas horas ideais para cada um) para acordarmos bem-dispostos, e depois trabalhar naquilo que nos dá prazer num sítio porreiro com colegas pelo menos simpáticos e se possível perto de casa para demorarmos pouco tempo nas viagens. E ao chegarmos a casa termos planos para fazer alguma daquelas coisas que gostamos muito (sair e tomar um café com amigos ou cinema, ou ler, ou qualquer outra coisa) que não se prolongasse pela noite dentro, para conseguirmos repetir tudo no dia seguinte.

Isto era o que eu gostava que fosse possível para mim. Durmo bem, o meu trabalho é perto e porreiro. Falta só tudo o resto

* pergunta retórica da melhor amiga